Você me perguntou se é necessário que eu esteja só pra que eu tenha o meu tempo. Não lembro das palavras exatas, mas acho que era por aí. Respondi meio sem responder daquele meu jeito de sempre, fugindo de perguntas correndo em zigue-zague até ganhar pelo cansaço e conseguir não responder. Que raiva que dá quando fica óbvia uma dessas nossas manobras evasivas que antes passavam despercebidas. Só agora percebo o quanto estou exausta de tanto dar voltas inúteis em torno de mim.
Respondendo sua pergunta: Sim. Preciso estar só.
Pra sair do tempo dá muito bem com companhia, desde que a outra pessoa esteja tão dedicada quanto eu a ignorar todo e qualquer indício de temporalidade e simplesmente existir junto. Mas pra sair do mundo não, pra sair do mundo eu preciso estar completamente só e pra que eu consiga ser um ser humano funcional e presente eu preciso sim periodicamente sair do mundo.
Minha tão querida bolha fora do tempo-espaço. Estar dentro dela é saber que naquele momento absolutamente ninguém sabe de mim e eu não sei de absolutamente ninguém. A vida segue lá fora só pra quem segue com ela e eu dou um passinho para trás e me retiro, saio à francesa do burburinho sem avisar uma alma e me permito ser esquecida. Simplesmente deixo de existir.
Sempre senti liberdade na insignificância e é só voltando pra esse ponto de inexistência que eu consigo perceber exatamente o que eu quero quando não tenho nenhum outro fator a considerar. Penso demais em todas as variáveis e por mais que eu consiga me perceber fazendo isso, ainda confundo minha vontade com a sua quando nossos olhos se cruzam e na verdade eu só quero estar junto então na real que qualquer coisa tanto faz.
Pra saber de mim preciso sentir só eu ao meu redor. Me afasto de todo barulho e fecho os olhos. Meus pés sempre sabem pra onde vão, é a cabeça que se perde, que se cansa, que se esfarela inteira a troco de nada simplesmente porque pode.
Amo estar junto, mas também amo estar só e tenho sentido saudade de mim.
