Mais uma vez esqueci. Esqueci que sei e que consigo, que se em algum momento já fiz posso fazer de novo. Acordo e me desespero com tanta coisa e tão pouco tempo. Tempo. Grande idiotice inventada pra gente se torturar correndo em círculos achando que logo vai começar. Ouvi falar de uma cidade que baniu relógios, queria ir pra lá. Imagina. Não, sério, imagina.
Não vai dar pra você saber disso mas fiquei alguns momentos em silêncio com um sorriso surgindo na cara imaginando. Não sei nem descrever porque vieram tantas imagens, cheiros e sabores diferentes num bololô inseparável, mas imaginei. Claro que eu poderia encontrar palavras que se encaixassem daquele jeitinho que desse pra entender, mas pra que? Imagine você.
Queria saber pra onde eu vou quando não me vejo indo. Pouco a pouco vou chegando em camadas de nada novo, mas sempre com um pedacinho que eu não tinha notado ainda. Tudo é assim.
Vejo meu coração pulsando na minha barriga. É sempre assim? Ela pulsa o tempo todo e eu que nunca vejo? Vejo os desenhos que se formam na minha pele como as rachaduras num deserto. Será que eu conseguiria mapear o mundo da minha mão? Será que alguém tem um conhecimento tão extenso de si que reconhece os espaços entre seus poros?
Preciso passar uns creminhos. Mas se eu passar será que vou perder as rachaduras? É isso que acontece com nossa pele quando ela envelhece? Se a gente olhasse mais pros mundos inteiros dentro da textura da pele não ia tentar tanto adiar o envelhecimento, né?
Se cada vez que a gente vê uma coisa que já viu percebe mais camadas dela que sempre estiveram ali, nossa pele já nasce enrugada mas a gente que não conseguia ver? Ou ela morre lisa e a gente que já viu ela demais?
Quanto tempo faz desde que entrei nessa bolha no espaço tempo chamada meu apartamento e nunca mais saí? Quantos anos eu vivi? Sinto que cresci muito mais pra dentro do que pra fora e agora desequilíbro.
Quilíbro. Dese. Qui. Li. Bro. Quili. Sequili. Se. Qui. Li. De Sequili.
Engraçado.
