tenho em mim tudo que preciso, mas nem sempre me encontro em casa
não posso olhar pela janela porque as cortinas estão fechadas
não tem nenhuma luz acesa ou bilhete avisando quando vou voltar
do lado de fora as ruas se alagam com lágrimas
que vem de algum lugar ao longe dobrando a esquina e descendo com força
do alto vazio caem gotas pesadas que encharcam
lavando da minha cabeça qualquer sentido que já tenha ali acumulado
as roupas grudam no corpo em desespero
como se tentassem se agarrar a qualquer coisa sólida
mal sabem que em desespero também eu nelas me agarro
sento no meio fio e no silêncio espero
só eu e os ecos de pensamentos nunca totalmente formulados
eles se misturam com todo o resto de mim que ainda não consegui entender
tenho em mim tudo que preciso, mas faz frio do lado de fora
não posso entrar até que a chuva me lave por inteiro
quando ela acabar é só abrir a porta