05 — sob efeito do vinho

mari
2 min readMay 20, 2022

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Inconvenientes se tornam convenientes quando não queremos incomodar. Incômodos existem para serem sentidos, caso contrário seriam cômodos, quartos mobiliados prontos para serem usados. O meu incômodo não é o seu incômodo, mas se eu estiver incomodada sem dúvida vai ser. Não se cresce sozinho. Não se despenca sozinho. Não quero te levar comigo então fico onde estou esperando que me esqueça. Cada qual com sua história, todo mundo tem a sua. Quando a gente acha que entendeu descobre mais um monte de poço sem fundo que desce e desce e sei lá se tem água no final. Deve ter. Me entendendo entendo a história de todo mundo que também é a minha. A mala que eu carreguei já não era minha, quem diria, peguei um lenço de dentro e acho que só. Não sei de quem é e também não quero mais carregar, será que se eu largar aqui no chão o dono vai levar?

Saio de mim e vejo círculos e espirais e cubos e linhas retas de padrões que se repetem, recomeçam e se interrompem da mesma forma vez e vez de novo. Não sei se me cabe, mas sei que não caibo. Cada vez fica mais claro meu lugar longe daqui. Parece abandono, mas quando recomeço permito que o que fica encontre enfim o seu final. Entro cada vez mais em mim e vejo de fora o que de fora não se vê. O prédio perfeito com a garagem mofada, sinto muito em informar, mas perfeito não é.

Sonhei que de arte morreu o homem que não aguentava mais viver. Sufocado pelas máscaras, ele descolou toda a pele do corpo certo de que não iria sobreviver, no fim descobriu que sem elas ainda conseguia respirar, mas não tinha mais coragem de se ver. Ninguém soube o que fazer. Sonhei que um cachorro salsicha comeu metade do corpo da menina que caiu do teto que quebrou. Ela gritava em desespero. Eu acordei em desespero. Desse não sei o que tirar. Sonhei o que acho ter sido um aviso porque aconteceu algo parecido. Agora não paro de escrever por medo de com que diabos essa noite eu vou sonhar.

Abri o quartinho dos fundos e joguei tudo no chão, achei um monte de coisa que nem sei de quem é, mas sei que não é meu. Mexi em um monte de coisa e ainda não sei bem o que vai onde. Meio caótica hoje, eu sei, mas é o que tem.

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