09 — para além da borda

mari
2 min readMay 24, 2022

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Todas as histórias vão muito além do que conseguimos compreender. Quando acabamos de conhecer alguém tudo nos surpreende, mas quanto mais conhecemos mais nos deparamos com pedaços inteiros de vidas vividas entre os vários pedaços de nós. Lacunas nunca preenchidas que habitam as bordas esquecidas das memórias mais visitadas, os momentos pequenos que talvez nunca tenham virado histórias até que se abriu espaço o suficiente para as englobar. Os momentos pequenos talvez comentados só com quem também os viveu e, portanto, dependentes dessas pessoas para serem trazidos à tona. Os momentos pequenos que na verdade são os grandes momentos que a tudo definem, que tudo permeiam, sem os quais todo o resto empalidece.

Percebo que nada na verdade é sobre mim. Nada na verdade é sobre ninguém. Somos aglomerados do que nos acontece e nos definimos ao escolhermos como conseguimos lidar. Quando nos perdemos, é como se saíssemos de uma loja depois de muito tempo lá dentro e, por um segundo, ficamos sem saber para qual lado ir — comigo, pelo menos, isso acontece o tempo todo.

Me perdi, eu ia falar sobre outra coisa. Chamei pessoas para me lerem e acho que fiquei auto-consciente, bateu aquela tão conhecida vergonha que me faz querer ficar quieta, mas aqui quem fala sou eu. Logo passa.

Enfim… Temos tanta pressa para chegar na resposta que queremos ou tanto medo de deixar o assunto morrer que costumamos emendar perguntas umas nas outras no instante que forem sendo respondidas, mas se tivermos a coragem de persistir e suportar o silêncio que se instaura podemos ter o privilégio de enxergar como a mente da outra pessoa funciona, ver para onde ela vai quando entregamos na sua mão a direção. O caminho pode se tornar um pouco mais lento, mas é aí que conseguimos abrir as janelas e curtir a paisagem de toda uma vida que se desdobra diante de nós. Existe todo um mundo além das bordas do que se conta. Todo um mundo desconhecido por nós e revisitado por quem o narra, muitas vezes pela primeira vez. Descobri em mim um amor profundo por permanecer em silêncio e ver o que acontece.

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