1 | e lá vamos nós mais uma vez

mari
2 min read5 days ago

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Já faz tempo que aprendi o que fazer quando o aperto pesa no peito: enfia a mão no meio das costelas, arranca de lá o vazio e o espreme bem até que vire suco que escorre viscoso pelos dedos no teclado.

Era pra ter começado a escrever antes de tudo começar e depois era pra ter começado no avião e depois era pra ter começado na minha primeira noite aqui e agora já é a segunda e é só agora é que estou começando. Mas tudo bem, já não sou mais tão obcecada quanto já fui. Antes de sair precisei me preparar, no avião só me veio o parágrafo ali de cima e na noite de ontem eu estava dormindo exausta pela viagem e pela mudança de fuso horário. A vida acontece apesar da minha vontade de escrever, fazer o quê.

Não saí do apartamento hoje. Falei pra mim mesma que é porque meu dedo machucado precisa de descanso depois de tanta caminhança, que eu estou me recuperando da viagem e que ainda vou ter muito tempo pra passear depois, que não tem pressa pra desbravar essa cidade que vou ter tempo de sobra pra conhecer.

Tudo verdade, mas é claro que não é por isso.

Sabe como acontece comigo, né? Fiquei com medo porque a língua ainda não chegou na minha boca e eu sei, eu sei que se eu ficar dentro de casa sem me expor a ela é aí mesmo que não vai chegar, mas mesmo sabendo disso me dei um dia de descanso na presença segura da brasileira com sotaque de casa que também gosta de quinoa, mas acha cogumelo super esquisito e que depois de amanhã já vai embora.

Não relacionado, tem um gnomo do lado de fora da janela e eu acho que ele é o motivo de eu querer ficar com esse quarto.

28 de junho de 2024

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