103 | que hora você vai me buscar?

mari
2 min readDec 18, 2022

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Acordei e levantei rápido, fiz café rápido, me arrumei rápido, cortei melão rápido, comi melão rápido, bebi café rápido e só metade porque não deu tempo, saí de casa rápido e fui resolver pendências da vida com minha blusa que acho de adulta porque me lembra das blusas da minha mãe.

Fiz o que precisava ser feito porque precisava ser feito e eu já tinha demorado demais pra fazer. Demorado por que? Acostumada demais a ter as coisas feitas por mim, enrolo e faço manha, mas minha mãe já não mora mais comigo e mesmo que ainda me ajude aos montes, ela não me pega mais pela mão e me arrasta por aí.

Tenho sentido falta dela em vários momentos e de várias formas diferentes e hoje conversando por mensagem foi ela quem disse estar com saudade, que até chorou um pouquinho.

A rotina sempre fez sentido com ela e hoje dirigindo no carro que compartilhávamos juro que senti a sua presença ao meu lado. Funcionamos bem no final das contas, cada uma no seu canto e sempre se orbitando, convergindo numa xícara de chá e se afastando aos finais de semana.

Sento no chão enquanto espero quem vem me buscar e tiro da mesma bolsa que eu carregava quando íamos almoçar juntas o livro que trouxe para me entreter. Ouço a chuva que cai e penso que, fossem os tempos outros, seria ela me buscando e eu entraria no carro contando tudo sobre o que acabei de ler. Sempre falando. O tempo todo. Sem parar.

Gosto do jeito que as coisas estão e foi bom entrar no carro que não é o dela e me sentar ao lado da pessoa que não é ela e conversar sobre outras coisas que não conversaria com ela. Não gostaria de voltar no tempo e nem de trazer o passado de volta, só me recordo com carinho do que um dia foi e que não é mais, mas que ainda é e vai sempre ser só que de outro jeito.

16 de dezembro de 2022

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