106 | olha ela aí

mari
2 min readDec 20, 2022

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A cada dia uma nova camada descola de mim e com ela leva tudo o que acabei sendo. Acho que entendi tem sido a palavra mais pensada desse ano and the hits just keep on coming… Não sei ao certo se vejo mais ou se vejo menos, talvez os dois ao mesmo tempo.

Queria conseguir ser mais específica, mas meu pensamento é abstrato, espalhado, divagado, e me falta vocabulário pra comunicar tudo o que penso.

O tempo aqui não passa de número em tela e mudança de luz, ele não passa e nem para num eterno não estar, ou estar, não sei ao certo.

Ela, de quem tanto falávamos, apareceu pra mim hoje e confesso que fiquei surpresa com a pessoa que encontrei. Como posso ter passado tantas vezes por aqui sem que a tivesse notado? Ela só precisava de um convite, de tempo e de silêncio e quando menos esperei já estava em minha frente.

Pensei querer falar sobre isso de tantas formas diferentes e acho que ainda vou, mas por enquanto não consigo e mesmo assim quero falar.

As outras pessoas também falam sozinhas desse jeito? Tem muita gente que eu acho que nunca nem sequer trocou olhares consigo, tem várias que eu tenho certeza que sim, mas será que desse jeito?

Li um texto esses dias sobre uma pessoa que vive entediada e contando como não importa o que ela faça sempre retorna ao mesmo ponto de nada ter graça. Senti muito por ela, me pareceu um jeito frustrante de viver e agora que penso sobre percebo que talvez eu esteja no extremo oposto.

Nada me entedia porque minha mente consegue preencher qualquer espaço e eu digo literalmente qualquer espaço. Percebo quanto tempo faz que não busco qualquer tipo de estímulo e fico rindo sozinha. Foi isso que aconteceu lá atrás, né? Eu era a criança estranha que ficava falando e brincando sozinha até que enfim conseguiram me convencer de que isso era esquisito e eu era esquisita e ser esquisito é ruim.

Eu deveria era ser que nem as outras meninas da minha idade, já crescidas com peito e bunda sentadas de pernas cruzadas e postura impecável enquanto eu ainda pequena moleca reta feito tábua saltitando pelos corredores. Nem parecíamos estar na mesma turma e mesmo assim sentávamos lado a lado. Lembro dos olhares, das risadas, dos cochichos e sinto muito por eles terem penetrado tão fundo que me fizeram acreditar não ser suficiente.

O negócio é que eu aprendo rápido e infelizmente fiquei profissional em manter a pose. Pose de que? Pose de gente sem graça sem brilho no olho.

Dentro de mim corre um cavalo selvagem que cansou de trotar.

19 de dezembro de 2022

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