109 | sinceramente nem eu sei mais sobre o que é que eu falo

mari
3 min readDec 23, 2022

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Café da manhã na cama. Almoço na varanda. Lanche no telhado. Janta na varanda mais uma vez só que agora sem calor nem claridade, com um pouco de dor de cabeça, mas só um pouco mesmo tão pouco que acho até que já passou.

Alguns meses atrás eu nem sabia da existência dessa casa e muito menos de quem nela habita e hoje habito ela também eu. A vida realmente funciona de jeitos estranhos e qualquer coisa que a gente consiga imaginar não chega nem perto do que a realidade pode vir a ser quando a gente deixa de tentar imaginar e passa a só viver um dia depois do outro, fazendo ainda planos mas se abrindo pra ver no que dá.

É realmente muito louco pensar na forma como as coisas acontecem na vida e eu não consigo parar de falar essa mesma coisa porque quando mais penso mais acho louco e quanto mais acho louco mais penso. É realmente muito louco pensar na forma como as coisas acontecem na vida.

O tempo passa por nós deixando marcas e nós passamos pelo tempo deixando migalhas de quem um dia já fomos e deixamos de ser. Quanta coisa aconteceu antes de eu chegar aqui e quanta ainda vai acontecer depois. Tudo o que tenho é o meio, um meio, recheio que vez ou outra posso escolher o sabor que vai ter, mas só às vezes porque nem sempre depende só de mim.

Queria ser menos abstrata e conseguir falar sobre o quanto me sinto grata pelo espaço que aqui me é permitido ocupar, mas quando vejo não é mais minha mente que escreve e sim meu coração que de tão cheio toma conta dos meus dedos por precisar se derramar e se esparramar e se segurar se conter se travar e explodir e implodir e aguentar e transbordar e por que é que de novo eu estou chorando pelo amor de deus?

Percebo como a tensão se transforma dentro de mim e me entope de tal forma que nada mais consegue me tocar. Parece que nunca fui fria no final das contas, só me treinei muito bem a guardar tudo numa caixa dentro da caixa dentro da caixa dentro da gaveta dentro do armário dentro do quarto fechado trancado com a chave que ninguém mais sabe onde é que foi parar.

Qual é a alternativa? Como existir sem medo de demonstrar tudo o que eu sinto correndo o risco de confundir todo mundo e ter que ficar me explicando a cada segundo sendo que nem eu sei como me explicar porque eu nem sempre eu sei mesmo, só sinto e por isso sei ser real. Como não conter a insegurança e o pavor e o desespero e o desamparo e o amor e o prazer e a tristeza que me invadem feito tsunami destruindo todas as estruturas que acabei de com tanto cuidado construir? Como me manter em pé quando qualquer coisa me derruba?

Desastrada que só, fiquei tão boa em me equilibrar que passo o dia inteiro tropeçando sem nunca cair. Evito o desastre iminente como se minha vida dependesse disso e a sensação é essa mesmo. Seguro a onda, mas até quando? Até ficar sozinha de novo e poder desabar sem que ninguém me veja em pedaços? Que jeito solitário de viver.

22 de dezembro de 2022

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