11 — crescer é uma loucura

mari
3 min readMay 26, 2022

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Eu vi o meu sobrinho nascer. Literalmente. Eu que fotografei o parto. Eu vi ele nascer e hoje, três anos depois, o vejo correr pela sala e repetir com cuidado todas as palavras que ouve. Antes de ontem vi na casa de meu vô uma foto da minha irmã mais ou menos com a mesma idade que seu filho tem hoje. Tirando as maria-chiquinhas dela, eles são iguais. Penso que eu também já tive três anos. Minha mãe já teve três anos. Meu vô já teve três anos. O MEU VÔ já teve TRÊS ANOS!!!!!!!!

Sempre quando penso em crianças que viram adultos vem uma pergunta na minha mente: de onde vem a pele????? Sim. Eu sei que esse processo é perfeitamente explicado pela ciência. Mas mesmo assim, me fascina pensar que um dia fomos pessoinhas minúsculas, com pezinhos minúsculos e mãozinhas minúsculas e aí anos depois nossos órgãos são maiores, nossos pés são maiores, nossas mãos são maiores, ganhamos altura, ganhamos peso, ganhamos marcas e cicatrizes, e a pele, o envoltório que guarda tudo isso dentro de si, também cresce.

Quando eu era criança eu tinha uma espécie de pinta com mancha que ficava no topo da minha testa, bem no cantinho direito, que com o tempo acabou desaparecendo e foi completamente esquecida. Um belo dia, alguns anos atrás, uma amiga estava pintando meu cabelo de roxo passando um pente no meu couro cabeludo e numa pontada de dor o roxo se tornou vermelho. Ela arrancou a minha espécie de pinta com mancha. A espécie de pinta com mancha que ficava na minha testa totalmente visível e com a bizarrice que é o crescimento da pele foi parar no meio da minha cabeça escondida pelos meus cabelos!!!!! Não sei se isso é uma coisa totalmente normal e ninguém dá a mínima, mas eu, pessoalmente, acho completamente fascinante.

Penso que o sobrinho que eu vi nascer um dia vai ser um adolescente, que um dia vai ser um adulto. Penso que um dia ele vai ter a idade que eu tenho hoje e me pergunto que tipo de pensamentos vão passar pela sua cabeça, o que ele vai gostar de fazer, o que ele vai gostar de comer. Talvez seja porque eu fui sempre a mais nova e nunca tive muito contato com crianças menores que eu, mas me sinto tão privilegiada por poder acompanhar uma vida inteira desde o seu comecinho.

Hoje assisti enquanto ele foi para a frente do espelho com a minha escova de cabelo e começou a se pentear. Ele sorria para si mesmo fazendo caretas e se mandando beijinhos, ele ria para ver como seu rosto ria e cantava seu nome para si mesmo. Lembro de uma filmagem da minha irmã, mais ou menos com essa idade, com um conjuntinho de moletom rosa choque em pé na frente do espelho no quarto da minha mãe. Ela se olhava e ria, e pelo que me lembro também cantava. Ela tinha a voz rouca naquela época, hoje não tem mais. Seus cabelos em maria-chiquinhas hoje estão presos em um coque preguiçoso. O conjunto rosa choque foi trocado por preto e jeans.

Olho para a minha irmã e meu cunhado e vejo como interagem com o seu filho. Eu os conheci antes de serem pais. Hoje eles são pais e são os mesmos. Penso em como era a vida de meus pais quando eles interagiam com a minha irmã na mesma idade. Como era o seu jeito de falar? Como eram as brincadeiras? Quais eram os medos? Eu não os conheci antes de serem pais, será que eram os mesmos? Não tenho filhos, mas se um dia tiver, será que vou ser a mesma? Será que um dia quando eu tinha três anos alguém olhou para meus cabelos loiros e imaginou que um dia seriam roxos? Será que se chegasse alguém e falasse que eu estaria aqui hoje pensando o que penso, fazendo o que faço, gostando do que gosto e sendo quem sou, pensariam "mas é claro que sim" ou pareceria tudo um grande absurdo?

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