Não sei nem como faz pra receber esse tanto de amor e carinho. O bom de receber é que você não precisa fazer muita coisa, só receber mesmo.
Choro. Choro sem querer chorar e sem conseguir parar. Choro de alegria e de riso pelo carrinho de controle remoto que anda até de lado e passa por baixo do sofá. Choro de carinho pela família que me recebe de braços abertos e me acolhe e me abriga e me alimenta tão bem mesmo com as minhas restrições alimentares inconvenientes. Choro de amor pela pessoa incrível com quem compartilho isolamento nesse mais um natal atípico pra nós dois. Choro de saudade da minha mãe que já faz tempo que está longe e mesmo que eu já esteja acostumada ainda não me acostumei e que a bem da verdade não sei se um dia vou. Choro de aperto no peito pelo meu parceirote de vida e de todos os últimos natais e que nesse momento está por outro canto da cidade espero que sendo tão bem acolhido quanto eu. Choro pela falta de quem não temos mais por perto por tantos motivos diferentes e nenhum deles anula a falta que deixam pra trás. Choro pela impossibilidade de estar perto de quem está tão perto e mesmo assim temos que ficar longe. Choro pelos presentes inesperados que nem importa o que sejam, mas que carregam o meu nome e me fazem sentir tão querida e pertencente que choro pela minha incapacidade de reagir melhor quando não consigo reagir de forma alguma por estar sendo inundada pela necessidade de chorar. Choro no espaço que me é dado pra isso e choro porque recebo um espaço seguro e acolhedor pra chorar.
Não, esse não foi o natal que esperávamos, não foi o natal que planejamos e muito menos o natal que queríamos, mas foi o natal que tivemos e no final das contas fico feliz por saber que independente do futuro, do passado e até mesmo do presente é essa a foto que ocupa no álbum de memórias da vida o espaço do natal de 2022 — o que me lembra que, pra variar, não tiramos foto.
24 de dezembro de 2022
