Tomo mundo sabe que vomitar é uma merda e todo mundo fala sobre como é uma merda vomitar, mas nunca ouvi ninguém falando sobre como vomitar dói.
A garganta que se espreme e se enrosca nela mesma num aperto todo torto e todo forte. A acidez que sobe arranhando tudo no caminho e deixa pra trás um rastro em carne viva. O corpo inteiro que treme dividido entre não aguentar mais e precisar de mais um pouco.
Os poucos minutos passados no chão do banheiro me fazem querer chorar, mas não tenho nem forças pra isso. Ainda assim lágrimas escorrem pelas bochechas meio de dor e meio de humilhação sem conseguir acreditar que estou aqui nessa situação.
Álcool é uma merda e eu que nem tava a fim de beber entrei na onda simplesmente porque sim, e eu que tomo tanto cuidado pra ter uma alimentação que me faz bem me envenenei simplesmente porque sim.
Talvez eu não estivesse tão bem no final das contas e a vontade de encontrar os meus amigos pra falar e ouvir e estar presente e me sentir pertencente ainda não foi saciada.
A crueza dos meus processos internos me faz crua e a intensidade das emoções que carrego me desgasta e lá estava eu fraca e vulnerável e me deixando levar de novo simplesmente porque sim, talvez por estar cansada de ficar me carregando por aí.
Passei o dia inteiro na merda e bem-feito, quem sabe assim aprendo. Começo a falar comigo mesma nesse tom de voz e já me paro por aí. Errei ué, faz parte. Aprendi minha lição e porque eu sou eu ainda passei o dia inteiro também refletindo sobre tudo o que eu consigo tirar desse estado de merda. Tirei bastante coisa até.
Sei que eu não costumo beber muito e por isso mesmo sinto tanto o baque, que é daquele tipo de coisa que aos poucos querendo ou não o corpo se acostuma, mas penso também que não há nada no mundo que justifique acostumar o corpo a se sentir um lixo.
Entendi que me amo demais pra ficar me intoxicando dessa forma. Errei nas minhas medidas, passei do ponto e excedi excessos. Ok, acontece. Mais um erro que se torna arquivo que vai pra minha biblioteca de experiências e, se eu tiver sorte e me dedicar bastante, quem sabe um dia consiga o suficiente pra transformar em sabedoria.
29 de dezembro de 2022
