135 | temporal

mari
2 min readJan 18, 2023

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Não somos nada. Todos os nossos problemas e todas as nossas conquistas não são nada. Vivendo a vida do jeito que vivemos, momento após momento, urgência após urgência e sempre em atraso é fácil esquecer que nada do que fazemos importa. Absolutamente nada do que fazemos importa. Somos minúsculos, minúsculos, não somos nada, não somos ninguém.

Assistindo um documentário sobre arqueologia me deparo com a mesma sensação de imensidão que encontro ao estudar astrologia e que conheci talvez pela primeira vez na minha infância assistindo documentários sobre o universo [amo documentários, mas pouca gente gosta e como gosto de assistir junto acabo descobrindo que gosto de várias outras coisas também e esquecendo do que eu — eu — gosto e esquecendo de assistir por mim o que eu — eu — gosto de assistir, mas quando me deixo sozinha por tempo o suficiente sempre acabo voltando pra eles, os meus amados documentários que eu — eu — amo assistir].

Li em algum lugar recentemente que quase ninguém hoje pensa em plantar uma semente que só vai dar frutos depois que já tiver morrido—a pessoa, no caso, não a árvore. Não era bem assim, mas sou ruim com citações e hoje o sono me pegou de jeito, admito, então elaborar pensamentos elaborados está um pouco complicado no momento, mas vendo arqueólogos falarem sobre estruturas que levaram séculos — SÉCULOS — para serem construídas e que hoje séculos — SÉCULOS — depois ainda existem em ruínas penso apenas nos celulares feitos para pifarem em alguns poucos anos.

A moral da história é que nós no nosso egocentrismozinho eu, eu, eu esquecemos do tanto de coisa que aconteceu antes de chegarmos aqui e do tanto de coisa que ainda vai acontecer depois de nós e que não é sobre eu, eu, eu, é sobre o que fica depois que a gente se vai — e aqui eu falo "a gente" enquanto indivíduos, sociedade e humanidade.

Sei lá, acho até difícil de falar sobre, mas fiquei realmente empolgada — no máximo de empolgação que o meu nível de sono me permite — porque tenho achado cada vez mais difícil encontrar espaço pra compreender o mundo nessa magnitude. Tudo parece próximo demais, tudo é logo, tudo é agora, tudo é momento, tudo nasce e morre diante dos nossos olhos, mas o que é que fica?

Eu — eu — gosto de assistir documentários e ler livros e deitar na cama com as pernas apoiadas na parede enquanto olho pro teto olhando na verdade pra dentro tão dentro que nem consigo me mover. Mas depois de absorver e processar tudo isso, o que é que de mim fica quando na verdade não é pra ficar nada de mim, é pra ficar de tudo isso, de todos nós enquanto uma grande massa de seres que não conseguem nem sair do próprio umbigo. O que é de nós que fica quando tudo nasce e morre diante dos nossos olhos que olham pro céu sem enxergar as nuvens que nascem e morrem desde sempre a todo instante?

17 de janeiro de 2023

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