145 | se o joelho começa é porque a coxa já acabou
Nunca fui muito boa de localização, mas ando me perdendo um tanto quando vou pros lugares. Enredada nos labirintos de ruas pequenas dou voltas e voltas sem conseguir chegar onde queria.
Muito do que quero falar me escapa por entre os dedos e vejo às vezes mais de mim pelo que cai do que pelo que fica e pelo que eu fico triste de ter escapado quando queria que ficasse e pelo que insiste em ficar contra todas as minhas expectativas.
O excesso de palavras que saem de mim escondem o tanto que não chega a ser verbalizado. Posso ser um livro aberto, mas olhando com mais atenção posso ver as várias páginas que foram rasgadas e extraviadas com o tempo.
Fragmentada em várias versões de mim acumulo uma vida de bolhas específicas que guardei anexadas à linha do tempo, mas agora elas começam a vir para a superfície e estouram no ar trazendo com elas aromas de tempos passados e ecos de vozes já sem rosto.
E se eu desse ao mundo a oportunidade de me ver mudando?
27 de janeiro de 2023