Tem sido difícil estar aqui e acho que isso está óbvio pelos últimos textos escritos, confesso, meio que de qualquer jeito. Na última viagem foi tão fácil e acho que achei que dessa vez também seria, mas noto minha presença cada vez mais cansada e rala. O naturopata falou que minhas sinapses estão afetadas pelos nutrientes que me faltam no corpo e que é justamente meu raciocínio que está começando a rarear. Me sinto um carro sempre com o tanque no vermelho e quando consigo finalmente abastecer o furo no contêiner não deixa a gasolina passar de certo ponto. Logo ele esvazia de novo e cá continuo com o alerta apitando.
Cansada. Estou cansada. E com pontadas dolorosas de cólica ainda por cima. Também não consegui me alimentar direito hoje e acabei de comer uma mini tapioca improvisada com o que achei na geladeira quase chorando de fome exatamente igual as crianças da festinha de quatro anos de hoje que brincavam na piscina até que fechavam a cara. E as mães sabem quando a briga é fome. E também sabem quando é cansaço. E também minha mãe me deu boa noite e me ajudou a vir logo para o meu quarto porque viu nos meus olhos que tudo o que eu sinto é a sobrecarga de dias cheios de gente ao meu redor. Dias sem tempo para mim.
Pois acabei de tomar meu suplemento para ver se em algum tempo meu corpo consegue fechar o buraco no tanque e quem sabe em algum tempo os meus momentos comigo mesma consigam me reabastecer o suficiente e quem sabe — quem sabe — eu até fique no verdinho. E também quem sabe o meu raciocínio consiga raciocinar direito e os meus pensamentos consigam voltar a pensar e eu consiga vir aqui e escrever textos coerentes e interessantes que agreguem alguma coisa a quem os ler, porque eu sei que os tenho dentro de mim, só não tenho conseguido os colocar para fora.
E a quem está aqui agradeço pela paciência e pela companhia. Não é minha intenção deixar ninguém de lado, eu não tenho conseguido estar presente nem para mim o suficiente. Sou só uma, e estou furada.
11 de fevereiro de 2023
