190 | humana

mari
2 min readMar 14, 2023

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Confesso que às vezes é um pouco difícil para mim viver com pessoas, entre pessoas, cercada de pessoas, falando com pessoas, interagindo com pessoas, pessoas, pessoas, pessoas, pra todo lado pessoas.

Sempre fui introvertida e preferi viver sozinha com meus pensamentos do que me enfiar no Meio — com m maiúsculo mesmo — , mas também nunca estive sozinha, mesmo quando mais acreditei estar.

Um belo dia chegou a pandemia e eu tive o privilégio de poder me trancafiar em casa e me isolar do mundo e ficar bem com isso. Agora, já mais de um ano que a vida "voltou ao normal" ainda percebo as sequelas sociais que o covid deixou na minha vida. Não me lembro exatamente de como eu era antes, mas acho que eu era diferente, pelo menos um pouco. Brinco que sou um bichinho do mato e a verdade é que dadas as devidas proporções eu não estou brincando.

De cima do meu poleiro observo minha forma de interagir e me acho estranha, mas ainda estou tentando entender como é que faz pra trazer essas percepções pra prática e talvez a melhor forma seja tentar falar sobre elas, algo que também não acho que ando conseguindo muito.

Penso sobre isso na sala de estar de amigos que ainda não são meus, mas podem vir a ser se eu conseguir sair da minha cabeça um pouco e abrir fendas nessa armadura com a qual me protejo do mundo. Aprendi que ela não mais me protege de nada e que prefiro me machucar a permanecer invulnerável, mas ainda assim tem momentos que o menor dos contatos ainda é muito difícil de estabelecer.

Percebo que sou invisível porque escolho ser e que não precisa ser assim, assim como também não preciso considerar minha casa o único lugar do mundo em que eu consigo ser eu e fazer minhas coisas. A realidade tem me mostrado diferente e acho que tudo o que eu preciso fazer é aguentar um pouco de desconforto pra sair dessa zona na qual me acomodei. Talvez eu precise começar a deixar de me enxergar como um bichinho e me perceber humana assim como todos os seres humanos ao meu redor. Talvez seja esse um ponto de conexão no qual eu possa me apoiar e o primeiro passo seja parar de tentar ser uma estátua sorridente e deixar que minha humanidade vaze pelos meus olhos, pelos meus dedos, pela minha voz, pelo meu corpo.

13 de março de 2023

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