Me sinto solitária, falei. Me sinto solitária trabalhando com isso. Eu gosto, eu amo, e eu amo também minha solidão, mas é solitário trabalhar nessa área e assim sozinha é mais difícil ainda, me falta companhia, me falta com quem trocar e, talvez mais importante do que tudo, me falta gente que como eu não quer fazer as coisas da forma como elas tem sido feitas. Na necessidade do imediato se perde conteúdo, e não se pode perder conteúdo. É ele que permanece quando todo o resto se vai, é ele que perdura até séculos depois e que segura no lugar o fio que mostra de onde viemos. Só sabendo de onde viemos conseguimos seguir em frente, mas insistimos em caminhar olhando no celular sem prestar atenção ao caminho. Louco traçar essa palavra em todos os seus significados, tão simples ela, conteúdo.
Me sinto solitária, falei, e pela primeira vez participei por livre e espontânea vontade da aula com poucas pessoas que, como eu, também se sentem solirárias. Falei e ouvi e como foi bom ter participado. Eu que, nos relatórios enviados pelas professoras à minha mãe desde criança estava me desenvolvendo muito bem, mas nunca participava da aula. Demonstra muita timidez, acho que é assim que diz em um. Lá nos meus sei lá, quatro anos? Não mudou desde então, desde antes dessas décadas aí que se passaram eu já não participava, e sei que já me sentia solitária. Mas hoje falei com vontade pela primeira vez, sem ninguém estar me perguntando nada. Falei e fui ouvida e respondida com atenção. E carinho. E cuidado. E atenção.
Era justamente sobre atenção que falavamos. Não diretamente, não, mas presente no fundo de tudo o que foi falado e às vezes no meio e em momentos bem na superfície estava a questão da atenção. Atenção… Outra palavra que dá pra traçar bem em tantos significados, e contextos, e espaços, e realidades, e de tão cheia que é sempre retorna à simplicidade tão simples que só se consegue enxergar quando se presta tanto ela própria, a dona da palavra e a palavra em si própria: atenção.
12 abril 2023
