Espaço grande é aquele ali, o da casa da vizinha. Espaço grande e nunca usado, usufruído, ocupado, pelo menos nunca desde que comecei a estar aqui, e olha que nesse nosso tempo já estive aqui um bom dum tanto.
Espaço grande, aberto e vazio, sempre vazio, dá à casa toda um toque inabitado. Salvo o dia que teve a gritaria, o único indício de que existe vida ali é o carro. A que ponto chegamos que sinal de vida é máquina de metal parada e sozinha? Máquinas feitas por nós, que só existem por causa de e para nós e ainda assim já quase nos superam em número.
E se tiver alguém ali do outro lado? Ali do outro lado do muro. E tem, tem sempre gente ali, gente que vai me ver se eu pisar no chão que é meu e que não consigo pisar porque sempre pode ter alguém que vê. E se eu só ocupo tanto o espaço que é sempre só meu? Porque o espaço é sempre só meu?
O risco da convivência não compensa o uso da varanda. Gosto desse seu jeito de comprimir realidade em uma só frase. Meus ouvidos esperam atentos e a ponta dos dedos embrulha as palavras largadas no ar com carinho nas minhas, as carrego no bolso para você e as deixo quentinhas, se um dia as quiser de volta é só pegar.
28 de maio de 2023