268 | que bom que as coisas mudam

mari
2 min readJun 2, 2023

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Já não me lembro de abril e muito menos fevereiro, quem dirá ano passado. Os dias se arrastam e se teleportam de um para o outro, essa sendo minha trilha de farelos largados na floresta para poder encontrar o caminho de volta para casa. Não para voltar, não, para saber por onde já passei e continuar em frente ou pelo menos diagonal. Não me interessa voltar no tempo e nem conhecer o futuro, me interessa saber onde estou e se estou fazendo boa viagem.

Mais uma vez me vejo pensando em como é diferente a vida quando a gente fica, eu, que sempre fui, retorno àquilo que fui e revejo aquilo que vi. No espelho as tatuagens denunciam a passagem do tempo porque o cabelo já faz tempo que não permanece o mesmo. Saio de casa sem maquiagem agora e não me importo em assim ser vista, pelo menos às vezes, calma. Parece bobagem, mas cada um é que sabe quanto custa a própria exposição.

O tempo passa e que bom que passa. Enxergo nos poros que já tanto vi o tanto de sujeira entalada e respiro leve o ar pesado que me cerca, pelo menos ele é meu e em sendo meu já me é fresco, com ele consigo lidar. Te percebo me perceber também na casa e em como me movo, na música que eu escuto antes de você chegar e que deixei rolando enquanto a gente conversava. Te vejo me procurar na pessoa que vê do outro lado do sofá e não sei quem é que encontra, só sei que gosto dela e isso hoje me basta, respiro aliviada.

No telefone deixo a manha aparecer e me lembro que nem sempre deixei. A primeira vez que a notei fora de mim foi naquela lua em câncer de cólica e tpm que eu só queria uma companhia e um carinho e o mais louco de tudo: eu pedi pelo colo que eu queria. Pedir é novo, aceitar também.

30 de maio de 2023

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