270 | vou voar de madrugada

mari
2 min readJun 3, 2023

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A mala precisa ser arrumada. A mala para a viagem de um final de semana para mais um curso que se acumula na lista de cursos que acumulo na gaveta. Vai ser coisa rápida, bate e volta, e sempre posso assaltar o guarda-roupa da minha irmã se esquecer alguma coisa, afinal, vou ficar na casa dela. Ainda assim uma mala mesmo que pequena precisa ser arrumada e tudo o que preciso deixar resolvido antes de sair de casa também.

O gato precisa de cuidados porque parece que ficou doente ou está ficando ou corre o risco de ficar, ainda não sei se entendi direito, o ponto é que ele precisa de cuidados e eu não vou estar em casa para cuidar. Eles sentem, falou a veterinária, e eu sei que é verdade. Eles sentem a nossa falta e grandes faltas se fizeram presentes nos últimos nessa casa, inclusive a minha.

As listas só crescem e feito hidra cada vez que uma tarefa é riscada outras duas nascem em seu lugar, ou três, ou quatro, e talvez na verdade essa agonia toda seja só a minha ansiedade. Talvez nem tenha tanta coisa assim, talvez seja tudo muito fácil e se eu gastasse menos tempo hiperventilando e focasse em uma coisa de cada vez tudo andasse de um jeito muito mais fluido.

Não gosto de ser tirada da minha rotina ao mesmo tempo que preciso urgentemente ser tirada da minha rotina ao mesmo tempo que se for para ser sincera eu nem tenho uma rotina direito para que possa ser tirada dela. Ser espontânea me é difícil porque inclui muitas variáveis de última hora, mas planejar é mais difícil ainda, tanto que nem o faço. Quando penso num futuro o que vejo é uma vida de improviso e talvez o jeito seja eu me aperfeiçoar nisso, o que exige um bom tanto de surto no caminho. Bom, se for assim boa parte já está feita porque se me garanto numa coisa é na minha capacidade de surto.

Um email que precisa ser enviado, uma ligação não anunciada, uma mensagem aleatória de quem pergunta se está tudo bem e não fala logo o que quer… Meu retorno de saturno vem se aproximando aí e com ele prevejo grandes surtos minúsculos e insignificantes, que eu consiga cada vez mais os matar na mão como mosquitos e continuar em frente.

Amei que o vôo é só no meio da madrugada, afinal, consigo arrumar melhor as malas à uma da manhã do que da tarde e lá do alto vou poder ver o sol nascer enquanto entre uma cidade e outra todo mundo dorme.

1 de junho de 2023

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