Pode parecer que a vida segue normal, mas não. Em cada rosto memórias dolorosas empurram a pele para fora enquanto repuxam-se adentro. Não tá sendo fácil pra ninguém.
Cada um com seus processos, né? Essa realidade externa continua como se nada tivesse acontecido e como se nada tivesse espaço para acontecer enquanto as realidades internas nos consomem por dentro, ninguém sabe de nada e ninguém tem como saber. Sorrimos uns aos outros e nos damos as mãos, vez ou outra abraços apertados, nos olhamos nos olhos e sentimos alento em quem nos sente sentir.
Quem não consegue olhar nos olhos morre afogado dentro de si.
Trocas acontecem a todo instante quer a gente queira ou não, é preciso estar atento, é preciso saber escolher, é preciso se proteger sem se proteger demais porque por dentro de muralhas quem mastiga é solidão.
Coração quando tem medo empaca no lugar, se aperta até virar ponto final, até virar vazio, buraco negro que se abre no peito e tira da face a reação.
Tudo o que se pode fazer é sentir, tudo o que se precisa fazer é sentir, sempre a resposta só chega ao se deixar sentir. O que fica por dentro corrói, adoece, mata. O grito que não sai pela garganta lateja na têmpora, cutuca até que o calor o derreta em lágrima e faz do corpo terremoto. Deixa tremer que é pela rachadura no chão que brota a cura, deixa tremer.
10 de junho de 2023