288 | verde-limão

mari
2 min readJun 23, 2023

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Dois corpos verde-limão chegam na sala e é impressionante o quanto é realmente impossível ignorar dois corpos verde-limão entrando no seu campo de visão, mesmo quando sua visão já está severamente comprometida pelas pupilas intencionalmente dilatadas.

Nem vi o rosto ainda e já sei que seu nome é Maria. Quantos anos tem não sei, mas sei que é geração z. Engraçado como é tanta gente sentada nesse mundo e ainda assim tem coisas que se agrupam em categorias gigantes.

Maria não para quieta, ou pelo menos é isso que diz o outro corpo verde-limão que eu assumo tenha comprado as duas roupas iguais e eu assumo que seja sua mãe. Engraçado como certas dinâmicas também se agrupam em categorias gigantes e a gente sabe só de ver. Mesmo que não seja foi, pelo menos por um momento e naquele momento foi.

Maria não para quieta e nem sua suposta mãe, que sapateia na cadeira ao lado. Atadas juntas por fios, a qualquer movimento de uma a outra reage numa dança de irritação e desgaste.

Pera, ao lado não, pois entre as duas há um terceiro borrão vestido de preto. Engraçado como tudo desaparece quando entra em cena o verde-limão. De cabeça baixa e celular na mão ele permanece imóvel em meio à tormenta, seu corpo alheio às correntes que o atravessam seja por imunidade ou cansaço.

Para de ser assim, Maria, que saco. Vou sentar lá do outro lado porque eu não aguento você mais não.

Maria escorrega a bunda na cadeira e põe o pé para cima, abraça o joelho com as mãos frouxas e cospe um sorriso no meio do rosto.

19 de julho de 2023

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