291 | tava procurando longe e a bússola logo acima do umbigo

mari
2 min readJun 24, 2023

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Nada mais fazia sentido naquele dia e todas as possibilidades eram reais. O tempo só mais uma perspectiva como tantas outras e dentre as várias camadas para ela a menor, mais estreita, a única capaz de se esgueirar por entre a fechadura da porta. Aquela porta, é. E por isso deixa migalhas de pão por onde passa, do pão torrado com azeite e orégano porque a crocância deixa o mundo mais interessante ao caminhar e só tem como continuar se souber de onde veio, né.

Sem noção espacial sai da loja sem saber por qual lado da calçada chegou. Precisa parar no lugar e olhar ao redor até se localizar, até enxergar aquela placa, banco, loja, aquela pessoa que desperte o reconhecimento sensorial que faz o corpo andar na direção certa antes que a cabeça tenha sequer a chance de perceber o que é que esteve acontecendo. Nem sempre ela alcança a realidade e muito menos os próprios movimentos.

A aceleração sempre foi o jeito de passar pelo portal e sem ela só não tem como chegar. Mesmo com ela nem todo mundo passa. Questão de sorte, provavelmente, e é bem verdade que já esteve se preparando faz um bom tempo. Na hora chacoalha e bagunça e é por isso que dá certo. É só saindo do provável que se encontra o que não pode ser.

Percebe que não precisa procurar porque tudo chegou ali, é só olhar em volta e ver onde foi que se meteu. O corpo sabe para onde vai e os pés vão levando, é só questão de usar as mãos pra pegar o que tem ao redor. É assim que sempre foi, não é? Pensa bem. É exatamente do mesmo jeitinho que sempre foi.

Talvez tenha ficado confuso, mas acho que para alguém que fala tanto em nome da confusão eu passo muito tempo tentando me explicar. É pra confiar na minha capacidade de síntese, né?

22 de junho de 2023

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