Não achei um final triste. Tampouco feliz. É um final quentinho. É. Quentinho como uma noite de vento gelado. Ele tem um certo conforto da mesma forma que a solidão é confortável e que o silêncio é confortável e que a dor é confortável. É a conhecida pressão no peito que cresce e fala não viu? falei.
É cruel como a realidade é cruel e como a vida é cruel e como as relações são cruéis e como a gente é cruel com a gente mesmo.
É o buraco negro que consome tudo por dentro.
É a noite que chove fria nos vidros do carro estacionado e que ilumina nossos rostos com o amarelo dos postes que me faz chorar pela perda que ainda não veio, mas vem. Ela sempre vem. E o pior de tudo é que ela passa, sempre passa, vai passar.
Só que eu não quero que passe. E o momento que se faz eterno começa a se desfazer diante de nossos olhos enquanto acontece porque sempre se desfaz, ficando intacto e inalcançável somente onde um dia foi. Porque um dia foi.
É quentinho porque bem se sabe que o melhor momento da montanha-russa é aquele em que ela se prepara para cair em alta-velocidade, é o frio na barriga que precede todas as quedas, até mesmo as que nunca chegam. É o fim do gozo que infelizmente deixamos gozar e que agora tem como único destino possível o fim e o esquecimento.
No sorriso que não quer sorrir se mistura a dor que passou com a dor que vai vir e que nessa combinação só pode doer justamente agora, e que só dói frio e pontiagudo desse jeito por já ter sido calor macio e que, se é esse o caso, sinceramente, que bom que dói. Cada lágrima conta a história de um amor que se deixou amar e de uma dor que se deixou doer e não tem nada pior do que uma vida emocionalmente constipada.
É confortável porque confirma nossas suspeitas de que o amor sempre se perde e no final podemos chorar feio a sós escorrendo pelas paredes de nossos apartamentos, soluçando em alto e bom tom, gritando, agonizando e por pouco não arrancando o coração cansado de bater com nossas próprias mãos. Quem sabe se as unhas estivessem mais longas…
É quentinho porque é intenso e nessa intensidade é que me sinto viva, porque minha lua mora em uma casa funerária e o fim sempre se fez presente em tudo o que sinto. E quando, como a grande apaixonada que sou, parte de mim morre de amor, é a morte quem me dá colo.
12 de julho de 2023