Nos sentamos nós duas lado a lado na confeitaria que fui pela primeira vez com ela tanto tempo atrás, muito antes de ser ampliada e de virar tudo isso que é hoje. Naquela época comemos coxinhas de jaca, hoje comemos quiche de shimeji. Seus cabelos ainda são loiros mesmo depois de um brevíssimo surto acaju, os meus nem lembro como eram de tanto que mudam.
As conversas fluem ininterruptas com atualizações de todo esse tempo que vivemos separadas, são muitas histórias a ser contadas, mas elas sempre fluíram ininterruptas, mesmo quando vivíamos juntas.
Não entendo o seu ritmo de vida e acho que ela morreria de tédio no meu, mas nossas diferenças não interferem na compreensão, na escuta e na abertura para compartilhar sem julgamento. A gente se entende mesmo quando não se entende nem um pouco e acho que nossa amizade é meio que sobre isso.
A luz pingava de mel seus olhos castanhos e percebi olhando para eles que eles olhavam de volta nos meus. Simples assim. Quanto tempo faz desde a última vez que isso aconteceu? A única pessoa que tem me olhado nos olhos é a psicóloga e quão difícil tem sido ser vista.
21 de agosto de 2023
