No fundo, bem no fundo uma porta fechada. Sem tranca, nem nada. Fechada por escolha, por vontade, por necessidade e deixada assim do jeito que foi encontrada. Uma porta fechada como as várias portas fechadas com as quais já deu de cara.
Não falo sobre portas.
Por dentro algo empurra o peito querendo sair. É seguro agora, mas depois de tanto tempo é difícil de acreditar. Os pés acostumados a se pendurar no abismo mal conseguem suportar o peso do corpo ao pisarem no chão. A força se esvai, a mente se esvai, a pele fica. Sozinha. Sozinha no frio, com frio sem sentir o frio que sente. Se acostumou com o escuro e essa é questão né, a gente se acostuma com o que é ruim.
Agora a luz machuca e o calor machuca porque incita a pele a sentir tudo aquilo que ela aprendeu a evitar, mas não quer mais porque decidiu que é melhor sentir. Só que sentir dói. E não sentir dói mais.
24 de agosto de 2023