45 | tatuagem

mari
2 min readOct 21, 2022

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À essa altura do campeonato já entendi que não sou eu que escolho as minhas tatuagens, são elas que me escolhem. Uma ideia se transforma em outra e outra e quando vejo tenho em meu corpo algo que eu nunca imaginaria ter, mas que pensando bem não poderia ser de outra forma. Vou aprendendo cada vez mais sobre mim conforme vou pouco a pouco me descobrindo de mim mesma.

Curto muito a lombra de que na verdade não é a tinta que adicionamos à nossa pele, mas sim a nossa pele que riscamos fora para mostrar os desenhos que se escondem embaixo dela. As tatuagens que fazemos sempre estiveram ali, nós só as tornamos visíveis e a nossa forma de lidar com o processo inteiro muitas vezes falam mais sobre nós do que os desenhos em si.

Por mais que eu pense em ideias pequenas e simples, quando percebo elas já se transformaram em um projeto gigantesco com várias peças que ainda nem sei o que vão ser, mas que já começo por um lugar e vou descobrindo ao longo do caminho, do mesmo jeito que faço tudo na minha vida, inclusive esses textos. Tudo meu precisa de complemento, nada simplesmente é por si só, sempre tem mais e eu vou acrescentando conforme fizer sentido.

Tem gente que só faz flashes, preferindo escolher obras prontas de artistas que gostam a pensar em algo. Tem gente que coleciona pequenos carimbos cheios de histórias. Tem gente que planeja tudo nos mínimos detalhes. Tem gente que só vai na louca e inventa na hora, no caso eu.

A dor faz parte do processo, é necessária, é ela que faz daquele momento um rito de passagem onde uma parte de si fica para trás e adquirimos a honra de poder nos enxergar como realmente somos. Tatuo os lugares mais doloridos porque quero me lembrar que sou mais resistente do que acho que sou. Pareço ser frágil e às vezes sou mesmo, mas preciso me lembrar que aguento de queixo erguido o que vier. Respiro fundo e me fortaleço, sabendo que pouco a pouco me faço mais eu.

19 de outubro de 2022

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