46 | levanta a cabeça, firma o pé

mari
2 min readOct 21, 2022

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Confia, filha. Acredita no que filha sente. Ainda vai ser muito feliz, deixa toda essa tristeza pra trás. Esse sorriso aí vai sorrir de novo, é. Tá forte? Tá sentindo a força? Por que tão triste, filha? Vem cá. Não precisa ter medo, pode ficar tranquila. Estranho, né? Primeira vez aqui, bem diferente. O caminho de filha é o caminho que filha fizer. Filha é estrela, vai brilhar, estrela, tá ouvindo? Segue o caminho de filha, faz o caminho. Confia no que filha sente. Ouviu? Lembra? Tá sentindo a força? Tá firme?

Não sei se sinto a força. Sinto, mas não sinto. Shh, shh, shh, sou embalada para a frente e para trás como criança e como criança me acalmo. Não consigo falar nada. Não sei. Não sei o que quero saber. Não sei que pergunta fazer. Não sei o que falar. Talvez nesse momento eu só precise de colo mesmo. Tá forte? A palavra ecoa dentro de mim buscando o lugar em que a força se esconde, mas só encontra paredes vazias onde rebate de um lado para o outro. Me sinto oca. Oca, não forte, num espaço que precisa ser feito vazio antes de renovar.

Confia no que sente, tão parecido com o ergue a cabeça de uns meses atrás, ergue a cabeça e confia que sente, confia que sabe. O caminho de filha é o caminho que filha caminhar, não precisa ter medo de deixar pra trás. Não escolho, não caminho e não deixo, apenas tenho medo. Tá com medo? Não precisa ter medo. Filha ainda vai ser muito feliz, vai sorrir, deixa a tristeza pra trás, que tristeza toda é essa que carrega? Não precisa carregar toda essa tristeza, deixa ela pra trás, não precisa mais dela.

Me abro para que o que precisa chegar até mim chegue e firmo o pé no chão para ter a coragem de buscar aquilo que não chega, só se encontra indo atrás. Ergo a cabeça e caminho em direção ao horizonte. Meu caminho só eu posso caminhar, só.

20 de outubro de 2022

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