62 | lua na oito

mari
2 min readNov 6, 2022

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Já entendi que você só funciona por causa desse sinal de alerta que apita a cada pouco — não gosto de usar aspas porque raramente me lembro das palavras exatas que foram usadas, mas ouvi essa hoje e sim… Realmente. Acho que todo mundo funciona de forma cíclica em maior e menor escala, a minha no caso é bem minúscula.

Volta e meia me sinto sendo atropelada pelo tempo como já falei várias outras vezes e não só é o tempo que me atropela como o espaço, a vida, as pessoas, eu mesma… Apesar de ter uns picos de energia de vez em quando que me colocam novamente no estado de uma criança que comeu açúcar demais, ando devagar. Não só ando devagar como volta e meia também gosto de parar onde estiver e simplesmente estar ali contemplando tudo que se passa ao meu redor e dentro de mim.

O problema, como sabemos, é que não dá pra parar no meio do caminho porque sempre tem gente caminhando atrás e na frente e prum lado e pro outro e quem ousar parar vai com certeza causar um acidente. Cá estou eu mais uma vez estatelada no meio do asfalto sendo pisoteada pelo movimento que não cessa por ninguém, quem dirá por mim que peço que pare sem ter nenhum motivo pra listar que não seja existencial.

Continuo estatelada e pisoteada pelo máximo de tempo que posso porque, apesar de ser dolorido ficar aqui, a alternativa de me levantar e continuar correndo pra qualquer lugar nenhum me parece muito pior, pelo menos aqui a dor é física e não na alma. Fecho os olhos, respiro fundo e esqueço onde estou pelo menos por um pouquinho, me transporto pro céu e sinto o vento cortante em minhas asas pois agora sou pássaro voando por cima de montanhas e vales ao pôr-do-sol, só no alto respiro todo o oxigênio que preciso pra viver.

Cada vez mais o mundo me ataca com estímulos e cada vez menos os pareço aguentar, um sussurro já é barulho demais, uma vela ao longe irrita meus olhos e o ar em minha pele mais parece feito de agulhas. Me sinto ausente o tempo todo porque mal consigo ser presente pra mim no tanto que preciso, não me sobra ser.

Assim como o corpo frio que entra no sol se esquenta e o calor da xícara se esfria no inverno, me acelero sem querer quando qualquer resquício de mundo entra pela janela e começo a dar pane. Sou espécie de outro lugar transportada pra cá contra minha vontade, e, mesmo que ainda consiga sobreviver, não floresço como sei que posso porque minhas flores foram feitas pra outro tipo de clima.

Tudo isso pra dizer que estou cansada e já faz tempo, pois o simples ato de viver em ambiente que não seja o meu natural faz com que tudo em mim tenha que trabalhar muito, mas muito mais do que o normal.

05 de novembro de 2022

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