69 | saí da estratosfera e não sei mais como voltar

mari
2 min readNov 14, 2022

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O conforto vem de estar sozinho? De estar junto? De estar sozinho e junto ou junto e sozinho? A falta que o silêncio faz é o que permite abraçar o outro lado de braços abertos. A falta que o silêncio traz traz também a sobra e o excesso e o resíduo de tudo que já não tem pra onde ir que não pra fora, pois que saia, vá embora e vire vento.

Não sei o que te esmaga, mas sei o que me sufoca.

A linguagem realmente é uma coisa muito tosca e só agora depois de tanto tempo consigo enxergar que a puxo tão para perto justamente porque ela me é tão, mas tão longe do que é que, de fato, nem sei o que falo.

Esse espaço de percepção é muito diferenciado quando nos vemos simplesmente nos sendo e nos atentamos ao que somos com os mesmos olhos que olham pra dentro e pra fora, ao mesmo tempo e um de cada vez.

O conforto, aqui, vem de não pensar no que se é e só se ser se descobrindo no meio do caminho com o que faz sentido e o que não faz nem um pouco, mas que pensando bem na real faz todo o sentido mesmo.

Só percebo o quanto penso quando paro de pensar, penso tanto que percebo que nunca pensei em nada na minha vida inteira.

Tudo acontece simultâneo aqui dentro e é tão disperso e abstrato que qualquer simples tentativa de existir como unidade exige tudo o que tenho dentro de mim, que sinceramente nem sempre é muita coisa.

Poder existir como partícula, frangalho, pedaço… Quando foi que paramos de nos deixar ser? Como crianças brincando no tapete da sala cada uma no seu próprio mundo só que lado a lado até a hora da janta, hora de condensar em matéria e… Peraí… Quando foi que tudo virou janta? Pra onde foi o espaço pro meu mundo simultâneo ao seu mundo ambos dentro desse mundo comum que compartilhamos?

Eu vejo o seu, será que ouso te mostrar o meu?

12 de novembro de 2022

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