88 | tudo pelo menos um pouquinho estranho

mari
2 min readDec 3, 2022

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A lâmpada pisca no teto. Acende. Apaga. Acende. Apaga. O céu pisca lá fora. Acende. Apaga. Vai chover. Olhamos para fora. Já está chovendo. Já parou de chover.

Abrimos a porta do quarto e atravessamos um portal entre realidades tão parecidas que se confundem. O dia parece que foi cuidadosamente modelado para ser estranho. Estranhamente incrível. Aleatoriamente estranho. Tudo parece um pouco diferente do que seria, ou muito. Tudo parece estranho. Relâmpagos iluminam o céu da tarde alterando a gravidade, o ar, a energia, a gente?

Do nada seu rosto se transforma, não mais é seu rosto que vejo. Não é a sua risada que ri. Não são suas mãos que seguram as minhas. O que está acontecendo? Não entendo e nem tento entender. Apenas permaneço ali, me segurando em pé para estar firme não importa o que aconteça. Você volta e vai embora de novo. Acende. Apaga. Acende. Apaga.

Se não estivesse aqui comigo eu pensaria estar sonhando. Não é possível que só eu esteja vendo isso, olho para você e vejo que também vê o que eu vejo. Confusão e incredulidade estampadas em nossos rostos que se olham em busca de companhia. Não tentamos entender, continuamos só registrando todas as esquisitices ao nosso redor. Tá tudo bem? Tá tudo bem, tá tudo bem? Tá tudo bem.

Estranheza se resolve com bizarrice. No palco a monocelha pintada com canetinha e a bota verde enorme de cadarços laranja são tão absurdos que nos colocam de volta no lugar. O que que está acontecendo? Você também tá achando tudo isso muito estranho? A platéia que mais parece estar numa praça de alimentação de shopping. Um copo cheio de cerveja sendo equilibrado no topo da cabeça. Uma banda tão ela que não é como mais nada no mundo tocando um som de outro mundo. Tudo o mais completo absurdo. Absurdamente surreal.

Para nós nada se repete, nada do mesmo, nada que seja nem um pouquinho remotamente normal pelo visto, afinal, o que diabos é normal, não é mesmo?

Do nada estou chorando. Sobre o que que estávamos falando? Como cheguei aqui? Como saio daqui? O que que aconteceu? Deixa o coração falar. Deixa o coração falar? Deixa o coração falar!

Nada como mais um pouco de aleatoriedade para fechar o combo do dia onde nada fez sentido. Parece que a gente junto gera tanta gravidade que até a realidade sai do eixo.

1 de dezembro de 2022

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