Me vejo causando estranhamento dos dois lados, mas não consigo encontrar um meio-termo.
Me lembro de quando eu era criança numa cidade nova e peguei o sotaque das minhas amigas, mas em casa ainda falava como sempre. Um dia elas foram almoçar lá em casa e presa entre minha mãe e minhas amigas, não soube qual era o meu normal e paralisei no lugar parecendo uma doida por não conseguir responder pergunta nenhuma sabendo que independente do que eu falasse, alguém iria me estranhar.
Não sei se realmente sou tão diferente assim em cada espaço, mas sei que é assim que me sinto quando dois mundos se encontram e eu fico ali no meio, sempre no meio.
Vejo que criei um desconforto, mas não consigo sair dele e torço para conseguir ao menos segurá-lo dentro de mim.
O vejo também em seus olhos e entendo que fracassei. Merda.
Será que se eu continuar falando você vai eventualmente esquecer do desconforto no qual te coloquei? Acho que tô só piorando tudo.
Por que é que eu não consigo calar a boca?
E quando preciso falar fico em silêncio.
Ando me sentindo tão eu e ao mesmo tempo mais inconstante do que nunca. Parece que a inconstância é o meu natural e é buscando segurança que me perco de mim?
Me sinto perdida e encontrada.
Me sinto caindo com os pés fincados no chão.
Me sinto voando.
Me sinto afundando.
Não sei o que fazer.
Não sei como agir.
Tudo que faço parece quase.
Quase lá.
Quase no ponto.
Passou perto
mas ainda não chegou.
As palavras erradas saem com uma rispidez que não sinto.
As palavras certas se perdem no meio de tantas outras tão vagas.
Paro no meio de frases.
Volto atrás.
Começo de novo.
Me desculpo demais e continuo errando.
Tão em casa aqui e também tão fora dela.
Tento
Tento
Tento
Continuo tentando
Será que é pra sempre isso?
Sou perfeccionista demais ou só erro muito mesmo?
Me sinto estranha
mas bem
mas estranha
confortavelmente desconfortável no grande desconforto confortável que é isso aqui
e você, como se sente?
9 de dezembro de 2022
