Pois tive que vir para a cama. Tem dias que eu tento, eu juro que eu tento fazer o óbvio — que é me sentar numa cadeira na frente de uma mesa — ,mas eu não consigo. Talvez me falte carne na bunda para aguentar tanto tempo sentada. Gosto de ficar em pé, em movimento, me balançando de um pé para o outro e chutando carinhosamente o ar ou dando tapinhas com a ponta dos dedos no chão. Mas o problema é que me mexendo quero sair correndo e ainda não aprendi a produzir assim. Preciso deixar o corpo parado para que a cabeça consiga correr, mas quando ela está prestes à decolar os ossos da bunda me lembram que mais uma vez esqueci de jantar.
Parece simples viver e fazer as coisas que se tem que fazer, parece tão simples que incomoda profundamente o quão difícil é. Não, não é difícil, é fácil e eu consigo porque é isso que eu quero, repito para mim. Sorrio no reflexo e me aceno com compreensão, entendo que me convenci e me sento na cadeira de novo pronta porque agora sim, agora vai! Ah, se pelo menos eu conseguisse me ajeitar, aí ia, tenho certeza que ia, mas não vai porque não existe posição confortável quando por dentro falta fofo. Pois tive que vir para a cama.