6 | cabo-de-guerra

mari
2 min readSep 12, 2022

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Entre tanto, me perco acreditando que sou pouco. Pouco presente quando sinto que devia. Mas devia o que? Pra quem? Como? Não devo a mim também as minhas escolhas? Não devo a mim também o respiro? A vida toda me senti sendo puxada pra vários lados, pouco a pouco me arrebentando, desfiando, fracionando… Agora nada me puxa, muito pelo contrário. Agora sou ofertada o espaço de ir e vir como e quando quiser e meus músculos treinados a contrair ainda estão se acostumando a relaxar enquanto os mecanismos de defesa ultrapassados apitam em meus ouvidos.

Me retraio em espasmos instintivos de autoproteção pelo costume de travar um eterno cabo-de-guerra com a vida e me estatelo de bunda no chão. Ninguém mais me puxa do outro lado, a corda permanece onde eu a larguei pronta para ser pega de volta no momento que precisar e eu aqui, usando força desnecessária e perdendo pra mim porque aparentemente sou só eu que estou jogando mesmo.

Pra qualquer lado que olhe tudo o que encontro é cuidado, compreensão e carinho e sinceramente nem sempre sei o que fazer com tudo isso. Me paraliso incrédula enquanto observo o fluxo contínuo e estável de um amor tão bonito que me dá vontade de chorar um choro de alegria, de emoção e de tristeza por todos os espaços que poderiam ter sido preenchidos assim.

O carinho na ferida ele é tão suave e gentil e ao mesmo tempo o corpo se tensiona pela antecipação da dor que nunca chega. Cicatriza, meu anjo, fica calma que o tempo cura. A marca fica ali pra que eu nunca me esqueça de como me machuquei e me lembre que venha o que vier eu passo pelo que for.

Ainda entro em uma pequena pane quando encontro uma bifurcação e me sinto dividida até me deparar com a realidade que ninguém me pressiona, ninguém me invade e ninguém me impede de ir pra qualquer lado que eu quiser, que pra qualquer decisão que eu tomar a resposta vai ser "ok, vai lá". Ainda não me acostumei que todos os caminhos dão a volta em si mesmos e que uma escolha pode ser simplesmente o que é: uma escolha.

E é aí que entra a questão. Se posso ser quem eu quiser, quem quero ser então? Não pela oposição, não pela revolta, não pela concordância, não pelo encaixe. Qual é a versão de mim que nasce do respiro? Qual é a versão de mim que dança leve e ri alto? Qual é a versão de mim que não tem medo de existir?

10 de setembro de 2022

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