Chorei sozinha por todas as vezes que precisei chorar sozinha. Por todas as vezes que fui demais e ninguém soube como lidar, por todos os colos que procurei onde mais precisava e só encontrei no meu, por todos os abraços frouxos que mais me despedaçaram que me seguraram no lugar, por todas as mãos que se estenderam sem conseguir sustentar o meu olhar, por todas as vezes que precisei guardar meu coração fundo tão fundo onde às vezes nem eu mesma consigo chegar.
Chorei sozinha no escuro e no silêncio porque precisava urgentemente chorar. Senti tudo o que precisava ser sentido sem tentar entender o que sentia e ainda não posso dizer que entendo, mas não me apresso a entender porque quem tem pressa é gente, a tempestade toma o tempo que precisa pra se formar. Chorei sozinha no escuro e no silêncio pra dar ao meu choro toda a atenção que ele merece, sem distração, sem conforto, sem suavizar o que não pode ser suavizado porque tem natureza áspera e essa é a beleza da coisa.
Chorei lágrimas que descem como lixas pouco a pouco amaciando a superfície grossa do meu rosto e do meu corpo e do meu coração. Lágrimas que escorrem esculpindo em minha face as histórias por mim vividas e que agora pra sempre estarão guardadas e expostas no museu que fica por trás dos meus olhos vermelhos e inchados.
Chorei sozinha pela criança que tantas vezes chorou sozinha por não conseguir parar de chorar, pela criança que com seu choro fez a mãe também chorar, pela criança que foi pedida por favor pra parar de chorar, pela criança que não sabia pelo que sofria e ainda assim sofria, pela criança que aprendeu a segurar o choro porque de nada adianta chorar. Choro sozinha pra chorar com ela e por ela e por mim que ainda sou criança e ainda preciso chorar.
28 de setembro de 2022
