Começo. Apago. Começo. Mudo de ideia. Começo outra coisa.

mari
3 min readJul 10, 2021

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Depois de um dia de cansar as ideias, mas ainda querendo escrever alguma coisa, lembrei da vez que passei dias e dias tentando pensar no que fazer para um trabalho da faculdade. Sem conseguir ter nenhuma ideia brilhante, fiz uma apresentação caprichada de meia hora sobre não como eu não consegui escolher um tema. Funcionou.

Já percebi que quando não sei bem pra onde ir uso frases curtas e faço perguntas. Faço pausas. Dou voltas. Pra onde? Pra qualquer lugar. Eventualmente me encontro. Ou me perco mais ainda.

Quando falo sobre coisas que atormentam meus pensamentos uso frases enormes e sem vírgulas que se aceleram na minha cabeça e espero que na sua também até o ponto que começa a acabar o ar e preciso fazer uma parada brusca pra respirar. Acabou que nessa nem foi tanto, normalmente vai bem mais.

Quando eu falo sobre opiniões e ideias minhas uso muito a palavra eu e várias outras que fazem com que fique claro que existe uma pessoa por trás das palavras com experiências e aprendizados próprios e que de modo algum quer que qualquer coisa seja entendida como verdade absoluta. Sou eeeeeeeeu que estou falando. Eu aqui ó. Eu.

Peguei ranço desse tipo de comunicação curta e rasa, de ler em todo lugar frases escritas como se fosse só isso e ponto. É muito possível ser breve e resumir e ainda deixar a entender que tem muito mais, que isso nem de longe é tudo sobre esse assunto.

É tanto "curso de formação" de um dia que vejo por aí com "tudo o que você precisa saber sobre" que só de ver um curso com um cronograma de meses ou anos meu coração já palpita pra me inscrever. Por um lado acho que devo até agradecer essa onda de conteúdo instantâneo que me fez perceber a necessidade de aprofundar e deixar o conhecimento ir se construindo aos poucos, fermentando e criando raízes.

Um lado de mim fica ansioso e acelerado quando encontra mil coisas pra fazer e a falta de tempo, enquanto outro se saboreia de contrariar a pressa e faz questão de fazer tudo da forma mais lenta possível. Pensando bem, os dois são o mesmo lado que às vezes cede e às vezes faz birra.

Lembro de estar no ensino médio e ir pra escola com a minha irmã. Ela já dormia de uniforme e levantava indo pra porta pronta pra sair, chegando lá gritava pra me apressar. Eu, muitíssimo ocupada fazendo chapinha no meio do verão absurdo e passando delineador por cima da linha borrada de ontem e antes de ontem, encontrava mais alguma coisa que ainda faltava pra fazer.

Tenho sérios problemas com o uso de para e pra. Tem momentos que simplesmente não consigo colocar para, não dá, não desce, não vai. Leio o que escrevo na minha voz e nunca que eu falo desse jeito. Mas ao mesmo tempo fico levemente incomodada porque sei que é o certo de usar. Fico nessa, escrevendo de um jeito, apagando, para, pra, para, pra… Às vezes deixo como ficou por último mesmo, às vezes mudo a frase inteira de um jeito que não precise usar nenhum dos dois. Aconteceu agorinha.

Gosto de falar tudo e nada ao mesmo tempo, de jogar um monte de informação aleatória e ver se forma alguma imagem no final. Tem coisa que é interessante, mas que nunca vira uma grande coisa, mas nem por isso precisa ser deixada de lado. É como aqueles filmes que tem várias histórias simultâneas que se for parar pra pensar são curtinhas e talvez não aconteça nada de mais, mas se juntar tudo num bololô de várias dessas ela fica encaixadinha, às vezes até fazendo sentido num contexto maior.

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