criatura

mari
2 min readFeb 15, 2024

Vive entre móveis esquecidos entre tempos perdidos entre tantas promessas uma pobre criatura tão, mas tão vazia de si
Que se enche daqueles que ama e preenche-se no olhar de quem ousar ver
Que dentro, mas dentro, tão dentro existe uma luz
Não é branca, amarela, nem vermelha ou azul, não é pisca-pisca e nem abajur
É luz de alma, ouvi dizer, luz de alma de gente feliz

Sentada no sofá mais deitada que sentada numa posição que pode ser tudo menos deitada, escreve
Escreve sem querer escrever sobre o tempo que a engoliu e depois a cuspiu como se fosse nada
Escreve porque não aguenta mais falar, mas há muito a ser dito porque de tanto engolir é muito cuspe que ainda falta
Pensa que quem sabe também ela pode ser tempo

Pensa que nada faz sentido e nada mais tem feito mesmo depois de tanto tê-lo encontrado que não o viu explodir nas próprias mãos
Não conseguiu soltar, a criatura
Pobre de realidade enriqueceu de ilusão
E agora, talvez pra sempre, duvida sem saber no que é que pode, se é que
pode
Acreditar

Vive ela meio cheia, meio pela metade, muitas vezes ainda vazia em
Silêncios

Vive ela sempre cheia e sempre vazia ao mesmo tempo do alimento- veneno
Com gosto de sofrimento ainda vivo na boca
E não come
Nunca aprendeu a comer

Pobre criatura, olha no espelho e chora e grita e urra e se delicia ao ver sentimento escorrer
E se afoga no sal, no suco, na água, no chá
Afunda esperando resgate sozinha no fundo do mar

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