Olho pra você e vejo tantos rostos em um só. Eles fluem entre um e outro tão rápido que não consigo acompanhar ou tão lento que nem percebo mudar, quando dou por mim já falo com outra pessoa. A mecha de cabelo caída sobre o olho que se esconde atrás dela me faz lembrar de todos os anos que passei escondida por trás de franjas, só fui aprender a amar meu próprio rosto quando parei de o cobrir.
Isso me faz pensar no quanto escondo minha voz no bolo que mora na garganta e no quanto eu preciso convence-la de que é seguro sair pra que eu possa aprender a realmente me ouvir. Sinto meu corpo começando a sair da fortaleza que construiu pra si e percebo o quanto ele não cabe dentro de mim.
Sempre fui conduzida pela vida e me deixei conduzir. Faço aquilo que é esperado de mim e ainda gosto de ir sempre um pouco além, mas e quando o que é esperado de mim é que eu faça qualquer coisa que eu quiser, será que eu sei o que é isso? Quando o que é esperado de mim é que eu não faça o que eu não quiser, será que eu sei o que é isso?
À essa altura do campeonato ainda estou aprendendo a ser assertiva, a fazer uma escolha e mante-la até o fim, mas quando me percebo confiando em mim instantaneamente me questiono e volto atrás. Sempre fui boa em me abster das decisões e escolher bem minhas companhias pra seguir pela vida com quem vai para o mesmo lugar que eu, assim acabo onde queria sem ter que me preocupar em me levar até lá, mas agora você põe as rédeas em minhas mãos e eu olho pra elas com um misto de confusão e mini-surto. Paraliso. Não sei o que fazer.
16 de setembro de 2022