Confesso que sempre me perco um pouco quando começo a me encontrar. É como se o simples fato de sentir um chão sólido sob meus pés me fizesse tremer. Isso me lembra de quando eu estou num lugar que não conheço então ando de queixo erguido e com passos firmes, com propósito, e mesmo que eu dê várias voltas inúteis me sinto confiante porque ando confiante. Mas quando eventualmente chego em algum lugar volto a me sentir desconfortável, como se a confiança só me pertencesse ao caminhar.
Em movimento me misturo com o fluxo das coisas, mas parada tenho tempo de observar e me questiono. Me comparo. Me diminuo em face de tantas outras faces que não necessariamente me olham, mas que se quiserem vão conseguir me ver com mais clareza do que eu gostaria. Seria esse o famoso medo da vulnerabilidade? Medo de ser vista porque isso abre espaço para ser mal-vista?
Me sinto brilhante. Me sinto extremamente brilhante, mas só no escuro. É alguém acender qualquer luzinha que eu apago. Como aquelas estrelinhas que toda criança já teve no teto do quarto, sabe? Será que existe algum holofote no mundo que vai me aquecer ao invés de me queimar?
Tento me convencer de que minha própria luz me basta e desde que eu saiba é isso que importa, mas no final das contas me vejo com rancor de pessoas que se exibem com a maior tranquilidade. Sei que não tem nada a ver com elas, que se eu me incomodo é porque em algum lugar eu também queria brilhar pelo menos um pouquinho na luz do dia. Queria por um dia parar de me importar.
Quando tudo começa a incomodar percebo que quem me incomoda sou eu. Eu que não sigo adiante com meus planos porque sinto que o fracasso me espera ali na esquina. Eu que paro de fazer o que fazia quando percebo alguém me olhando. Eu que tenho medo de fazer barulho e ser acidentalmente ouvida. Eu que sinto a necessidade de voltar correndo para o meu buraco toda vez que alguém me nota.
Parte do processo de eu passar por cima dessas travas, aprendi, é olhando tanto para elas que fico com raiva de mim. A raiva, infelizmente, me motiva. Ela que chega chutando a porta do meu painel de controles e escrevendo um lindo "foda-se" em todos os meus botões. Foda-se o medo, foda-se a insegurança, foda-se o fracasso, foda-se eu, foda-se tudo, foda-se todo mundo. Ninguém sabe o que faz e todo mundo faz merda, porque também não eu?