Nada mais pode só ser.

mari
2 min readApr 26, 2021

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Acho incrível como tudo agora precisa ter um propósito palpável, e uso aqui a palavra incrível com o maior nível de sarcasmo possível. Não chega nem a ser chocante, só frustrante mesmo. É uma urgência desenfreada para chegar em qualquer lugar, não importa qual, mas algum, só para logo em seguida, chegar em outro. Não faz sentido, mas faz. Parece errado, e eu, pessoalmente, acho que é extremamente.

Sei que não aguento mais tudo ter que ser provado, tudo ter que ser quantificado, até o que é impossível que seja. Se fala muito hoje sobre não se comparar — com razão — , mas e como que se faz isso quando tudo ao nosso redor é feito para ser medido? Eu queria saber se existe alguma forma de não fazer parte disso, mesmo precisando. É possível só parar? Simplesmente "tacar o foda-se" e ver o que acontece? Queria. Quero. Tempo presente. Vontade crônica.

Pode ser considerada crônica essa vontade insistente e recorrente que todo mundo ao meu redor tem de largar tudo e fugir? Vou assumir que sim. As outras gerações também eram assim? Não pode estar certo isso. Só pode ter alguma coisa muito errada quando todo mundo subitamente não aguenta mais fazer parte do mundo.

Achei pesado, mas deixo aqui mesmo assim, acho que esse peso é relevante. Não quero ser deprimente. Na verdade, eu quero ser otimista até demais, mas fica cada vez mais difícil, e se eu, tentando suavizar, me deparo com essas crises, imagina quem já tende por natureza ao pessimismo. Meus sentimentos.

Comecei querendo falar de uma coisa e acabei caindo no abismo da frustração com o estado atual das coisas. Tem tantos ângulos para analisar tudo isso que não sei nem por onde começar, então não começo, mas o incômodo sempre chega de fininho e quando eu vejo tomou conta. Decido nesse momento parar de guardar para um outro momento e deixar que polua tudo o que eu tento fazer. Já faz isso mesmo, pelo menos que agora seja com a minha permissão.

Saio daqui falando que não sei o que isso foi e gostando da sensação de não saber, de só deixar os dedos trabalharem e escrever sem propósito. Não aguento mais pensar em propósito. Cansei de tentar criar coisas que fazem, quero criar coisas que só são.

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