mari
2 min readMay 9, 2021

Em vários momentos da minha vida ouvi "nossa, como você escreve bem", o mais recente veio hoje pelos textinhos carinhosos que escrevi pra minha mãe e irmã. Eu, morrendo de saudade, a transbordei. Claro que sempre fiquei feliz com o elogio, mas foi só recentemente que aprendi a identificar a minha voz nas minhas palavras e vê-las como dignas de serem lidas.

Percebo que a escrita sempre esteve presente na minha vida, de um jeito ou de outro, e tudo começou muito cedo com todo o incentivo à leitura que recebi dos meus pais. E sempre atribuí a isso, eu escrevo bem porque eu leio muito, sem mistério. Não deixa de ser verdade, mas hoje vejo que é mais do que isso. É a minha mente eternamente pensante que ama demais montar e desmontar quebra-cabeças com as palavras.

Por muito tempo eu me sentia incompreendida e que não tinha ninguém para conversar, não de verdade — adolescente, né. Então eu escrevia e meus dedos tiravam de mim tudo aquilo que explodia lá dentro. Com o tempo fui aprendendo a me abrir com as pessoas ao meu redor e hoje falo até demais.

Falando, parei de escrever. As palavras, podendo sair de mim pela boca, deixaram de chegar aos dedos. Podendo ser sincera, eu parei de dar voltas nos assuntos que me afligiam e perdi a poesia ambígua, incerta e tateante.

O problema é que falando tudo é muito mais direto, e uma vez que palavras viram vento vão embora, tornando impossível revisitar um velho pensamento formulado em um velho tempo. A memória é mentirosa e esquecida, e, tendenciosamente, puxa uma lembrança antiga e a colore com o sentimento de agora.

Me comprometo a voltar a escrever. Um pouco disso, um pouco daquilo, um desabafo de cá, uma análise de lá, de vez em quando até uma fantasiasinha. A angústia pode até sair de mim quando falo, mas só minhas mãos tem o poder de ressignificar e proteger memórias e momentos.