20 | num momento vazio

mari
3 min readSep 25, 2022

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Estranho esse negócio de escolher e decidir e continuar escolhendo e decidindo a mesma escolha uma vez depois de escolhida e decidida. Descobri que por mais que eu tente não consigo me fazer pronta, só ridícula mesmo. Tento ir para a frente enquanto me seguro com força no mesmo lugar. Solta, só solta. Sempre volto para cá. Sempre volto para a necessidade extrema que eu tenho de aprender a soltar.

Soltar o que? Tudo. Para qualquer lado que eu olhe, para qualquer coisa que eu tente, para qualquer movimento que eu faça descubro que não paro nunca de me tensionar. E se por um milagre os astros se alinhem e as circunstâncias favoreçam e o estado de espírito for exatamente o certo na hora certa e eu me deixar ir por um mísero segundo que seja, a culpa e a vergonha chegam correndo logo atrás e me puxam para trás de novo com tanta força que quase caio. Me encolho constrangida no primeiro canto que encontro, desnuda e exposta.

É como eu sempre falo: tem aprendizados que a gente leva uma vida inteira para aprender e tudo bem. É um vai e volta de tentativas e erros e desvios e retornos que pouco a pouco vão se complementando até que um dia, se tudo der certo, a gente possa olhar para trás e perceber que essa questão que um dia foi tão gigantesca hoje já não é mais, talvez a gente até se esqueça dela até que aconteça alguma situação aleatória que nos faça relembrar.

Me inspiro nas formas de ser ao meu redor e descubro que assim também posso eu ser, olha só… Quem diria? Me vejo hoje quase exatamente onde já te vi antes e percebo como foi me ver do seu lugar. Vejo dores e angústias em meus olhos passados e já não as sinto mais, elas agora são outras. Vejo também os transtornos pelos quais te fiz passar e te admiro por ter conseguido sustentar o meu olhar.

Parece que entendo agora como você vê as coisas porque quando paro para me analisar percebo que já as vejo dessa forma também. Quase não me lembro mais de como eu sentia tudo isso e é por isso que escrevo, acho importante poder voltar atrás e me lembrar de todos os processos pelos quais já passei, de todos os redemoinhos de pensamentos que já pensei.

Nunca aguentei ficar no mesmo lugar por muito tempo, me entedio fácil e perco o interesse por mim quando me vejo estagnando. Me forço a atravessar o que quer que seja simplesmente porque a alternativa de ficar parada consta no meu inferno pessoal, mas talvez tenham coisas que eu devesse também me forçar a esperar. Hoje foi um dia calmo em que não aconteceu nada de mais, e é por isso que agora folheio no espaço vazio e escuro ao meu redor todos os monstros que aqui já enfrentei.

Ainda me pego pensando como a versão de mim que se sentava do outro lado dessa cama sendo que já não sinto mais como ela, já faz tempo que deixei de a ser e já posso me sentar com você do outro lado, mas por algum motivo ainda me parece errado. Preciso fazer a troca de pele e chorar pela que perco enquanto a largo para trás.

24 de setembro de 2022

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