29 | opostos complementares

mari
2 min readOct 4, 2022

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Tem vezes que as coisas são tão fáceis entre nós que esquecemos de ter o cuidado que se tem quando elas são difíceis. Somos parecidos demais — por vezes quase iguais — e acabamos nos olhando como olhamos no espelho. A minha dificuldade é a mesma que a sua, então ficamos cada um de um lado esperando pela ajuda que não conseguimos nos dar. A minha facilidade é a mesma que a sua então ela se inunda e ocupa todo o espaço.

Ambos urgentemente precisados do colo que não sabemos nos dar porque cada um entende colo de uma forma. Eu que preciso de solidez te ofereço toda a dureza que sei ser, mas você não quer rocha para se apoiar e o que era para ser conforto se torna aspereza. Você que precisa de fofo me oferece toda a maciez que sabe ser, mas eu tento me segurar na água que flui e o que era para ser segurança se torna frouxo.

Eu choro tanto que talvez esteja chorando também por você. Você guarda tanto que talvez esteja guardando também por mim. Autossuficientes demais para pedir o que mais precisamos, auto-protetores demais para estender a mão que dói. Temos as mesmas feridas que viram machucados diferentes que doem a mesma dor em lugares diferentes. Precisamos de ajuda para cicatrizar, mas queremos resolver tudo sozinhos. Deixa que eu me viro, deixa que eu consigo, não se preocupa comigo.

Nos afastamos quando mais precisamos de proximidade porque não queremos nos machucar e muito menos um ao outro. Sentimos tanto que pouco a pouco nos dessensibilizamos. Nos cuidamos tanto que pouco a pouco nos esterilizamos. Me desculpe pela apatia, meu bem, é que eu estava doendo.

3 de outubro de 2022

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