pois rio muito de mim

mari
2 min readJul 12, 2022

--

Acho engraçado que quando me dói começo a escrever falando "engraçado". É o equivalente verbal ao sorriso mesquinho que vem junto de uma pequena bufada pelo nariz. A socialmente aceita e cultivada evolução do comentário sarcástico e venenoso largado justamente para empurrar para longe tudo aquilo que faz doer. É a batata quente que não pode queimar a mão então sem nem pensar precisa ser jogada de qualquer jeito em qualquer direção e que se vire quem pegar.

Pois hoje jogo sozinha. Pegando e largando batatas quentes de todo e para qualquer lado. A graça sem graça nasce do que eu mesma penso. O sorriso bufante é para o espelho. O sarcasmo me desce como ácido garganta abaixo. E no final das contas sabe que acho isso bom? Chegar nesse ponto comigo mesma significa que qualquer coisa que venha de fora não vai nem fazer cócegas se for comparar ao que eu mesma me faço passar.

Ao que eu mesma me faço passar, é exatamente isso. Eu mesma olho para o caminho estranho e escuro e, sabendo que é só por ali que dá para continuar, me forço a dar um passo atrás do outro. Me recuso a pegar atalhos. Desbravo trilhas internas com um facão na mão e sangue nos olhos. É só assim que vou chegar onde vale a pena. É só explorando que encontro os paraísos escondidos nos lugares onde nunca ousei ir. Só assim tenho qualquer chance de encontrar os cantos de mim que ainda não conheço. Se eu vou gostar ou não, pouco importa. O que importa é que dali para a frente já sei.

O engraçado vem do ponto no meio do desespero e a calmaria. Passou a crise, passou o surto, passou a água gelada no rosto vermelho e inchado de tanto chorar. Passou. Já senti tanto que agora já sinto quase nada. Chego tão perto do nada que tudo fica engraçado, parece piada, só pode ser. Rio. Rio mesmo. Rio tanto que até deixa de ser sarcástico, tanto que se bobear quase volto a chorar, mas não, fico por aqui mesmo, simplesmente achando tudo mas é muito do engraçado.

--

--