O mais estranho é que no final das contas eu não saberia dizer. Me empequeno, minúscula na face do mundo, querendo só sentir um vento na cara e me deixar ir. Dissipar, esvoaçar, virar partícula de mundo como tudo ao meu redor. Difícil ser matéria. Difícil coordenar tanta célula ao mesmo tempo e ordenar numa coisa só. Sinto cada milímetro de mim querer se soltar e todo meu esforço vai pra segurar. Cansa. Sempre exausta e sem força pra nada além de segurar minhas pontas. Me desfaço como farelo de bolo por aí. Todo tipo de interação me drena e me esgota. Preciso mais que tudo derreter e esquecer que em volta de mim tem um corpo que precisa viver. Solta, só solta. Não dá. Tudo de mim é meu. Tudo que me afeta é meu. Mas não. Não só, não tudo. Me diminuo, me tranco em mim no quarto dos fundos e apago a luz. Me escondo nas cobertas e ouço o silêncio preenchido de respiração. Abrir e fechar os olhos dá na mesma. A luz machuca. Barulho machuca. Gente machuca, mas escondida me sinto só. Nem sempre, às vezes. Tem horas que é bom, tem horas que não, mas pelo menos ali sou toda eu, em mim, de mim. No mundo não sei quem sou, esqueço, é muito barulho, é muita luz, é muita gente. Meu lugar preferido é tão dentro ou tão fora de mim que sou tão eu que deixo de ser.