sensorial

mari
2 min readJun 30, 2022

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Voltei pra casa e parei de escrever. Já percebi antes, mas só pensei agora. Acabei de escrever um parágrafo enorme indo pra um lado que ninguém nunca vai saber porque apaguei. Acreditamos tão facilmente que uma frase vem logo depois da outra, mas entre cada uma dessas apago outras tantas que nunca encontram seu fim porque interrompi no meio. Nem eu sei pra onde iam, talvez nunca saiba. Quantos parágrafos se escondem entre o que se diz? O que se diz é nada, mesmo quando como eu faço sempre se diz tanto que parece nem ter espaço pra mais. Mas tem, sempre tem, ah se tem. Tem dias que escrevo como pensamento, com pausa

Morreu, perdi pra onde ia. Acho que cheguei no ponto que queria, a música engatou, a luz azul que enche o quarto de azul e faz eu me sentir tão azul que chega arrepia de frio. Pontiaguda, afiada. Ia dizer amassada, mas na verdade tão lisa que chega brilha.

Tem horas que só me dá vontade de gritar sem saber o por quê, mas só se for um grito em silêncio porque de madrugada não dá pra fazer barulho. Queria era tomar um banho de chuva daqueles que antes de perceber que chove já estou completamente encharcada e não tem nada a fazer que não continuar andando, talvez rindo, talvez chorando. Depende do dia. A chuva dá permissão pra sentir. Quando a chuva é tão forte que quem anda ao lado não consegue ouvir. Quando a chuva é tão forte que molha cabelo, molha roupa, molha mochila, livro e celular e nem dá pra se importar porque já foi, não tem o que fazer. Já foi.

Minha nuca está arrepiada há horas e eu não sei se é do frio ou do fantasma de mim andando tão perto que

Meus braços também estão arrepiados, sinto nos pulsos e na ponta dos dedos que tec tec tec no teclado iluminado.

Parei. Segurei minhas mãos umas nas outras e com elas nelas fiz carinho como faço nas suas. Parei de novo, fiz mais um pouco. Acho que é isso. Não sei se foi a música ou a luz azul ou a hora ou a vida, mas acho que me arrepio pedindo para ser tocada. São meus poros chamando minha atenção

Parei de novo. Agora entendi. Preciso não tocar em nada e me acariciar no ar.

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