sobre passeios e nuvens

mari
5 min readApr 1, 2022

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Aqui em casa a gente costuma já acordar no talo, começando o dia já nas conversas metafísicas, profundas e abstratas antes mesmo de sair da cama. Já se tornou rotina divagar sobre absolutamente tudo e qualquer coisa por horas no que apelidamos carinhosamente de “chupar a manga”, roendo o caroço da ideia até não sobrar mais nem um fiapinho sequer. Já me foi dito que tenho o dom de monologar pra sempre se ninguém me interromper, emendando um assunto no outro e no outro e no outro… Não lembro quando isso começou, mas lembro de desde pequena ficar andando pela casa atrás de minha mãe enquanto ela fazia suas coisas contando nos mínimos detalhes o enredo inteiro de tudo o que eu estava assistindo ou lendo no momento. Ela sempre me ouviu e deu corda pros meus pensamentos com todo o carinho, mas tudo o que é bom acaba e infelizmente sempre chegava a hora de dormir. Hoje me vejo fazendo exatamente a mesma coisa, seguindo meu parceirote Vini pela casa como um patinho tagarela, indo e voltando da cozinha ao quarto, de um assunto ao outro até a hora que ele encosta a cabeça no travesseiro e dorme instantaneamente me deixando a falar sozinha.

Acho que é por isso que acabo aqui, escrevendo, dando um jeito de deixar jorrar todas as palavras que ainda existem dentro de mim e que, caso não saiam, me deixam encarando o teto madrugada adentro sem nunca conseguir dormir. Tenho ascendente em gêmeos e mercúrio em libra, ou seja, percebo o mundo como infinitas possibilidades e penso em todas as hipóteses e desdobramentos possíveis de absolutamente tudo que passa pela minha cabeça. Sou o tipo de pessoa que vê um filme e PRECISA passar o resto do dia — no mínimo — comentando sobre todos os pensamentos que pensei enquanto assistia, todas as lembranças que lembrei, todas as referências e associações que associei, etc. É por isso que preciso desse espaço livre para poder falar tudo o que consigo sem limite de espaço, porque resumir uma ideia é uma tarefa tão difícil que praticamente impossível, quase que um desserviço e que vai contra todos os meus princípios.

Deve ter muita gente que já desistiu faz tempo de descobrir onde esse texto vai parar e tudo bem, porque se você chegou até aqui já deve ter percebido que nem eu sei. Gosto de deixar minha mente vagar por aí e ver por onde ela passa, acredito que é assim que descobrimos lugares novos, às vezes interessantes, às vezes nem tanto, mas não tem problema porque a melhor parte é caminhar. Não gosto de chegar em conclusões porque acho arrogante pensar que já entendi tudo e também nunca presumo que o que eu falo seja a única verdade, apenas uma opinião minha do momento que ontem foi outra e ainda vai se transformar muito quanto mais eu aprender e me expandir, ainda bem.

Enfim… Oi, seja bem-vinde ao interior da minha cabecinha! Sinta-se em casa e, por favor, tire o sapato antes de entrar. Ah, e seja gentil, eu choro fácil.

Todo esse tempo entre o texto passado e hoje passei pensando no que iria escrever em seguida sem conseguir formar uma frase sequer, totalmente travada na ideia porque tentei a definir antes mesmo de começar. Não, isso não funciona para mim. Finalmente pedi uma ideia para o Vini e ele me deu uma muito boa, sentei aqui na hora e comecei a jorrar esse fluxo de nada a ver. Sabe o quê? Já tem muita informação sendo colocada no mundo, muito conteúdo sendo criado sobre absolutamente tudo, então proponho que esse seja o lugar de descansar um pouquinho a mente sedenta por estímulo, de não pensar em termos de conteúdo, que esse seja o caminhar sem saber para onde vai, o passeio contemplativo pelo jardim, a sentada na grama olhando para as nuvens divagando sobre qualquer coisa, a conversa que se tem quando não se tem nada para fazer.

Falando em olhar para as nuvens, um dia desses eu estava exausta e estressada não lembro o por quê. Frustrada, desisti. Fui para a varanda, virei a cadeira para o lado de fora e fiquei sentada olhando para o céu. Era para ser só uns minutos, mas acabei ficando horas ali. No fim de tarde o céu se coloria com vários tons de azul, rosa e laranja, lindíssimo, mas o que mais me chamou atenção foram as nuvens. Todo mundo sabe que nuvens formam formas diferentes e cada pessoa vê de um jeito, mas eu não lembrava que elas mudavam de forma tão rápido! Quando eu finalmente conseguia perceber todas as suas bordas elas já estavam totalmente diferentes. Fiquei hipnotizada por essa dança maluca e quando vi já era noite e eu estava pintando a tela dos gatos de vários tons de azul para que o quadriculado branco parasse de me separar do céu. Durante essas horas tudo deixou de existir e eu me conectei comigo mesma e com a magia de simplesmente ser. Passei tanto tempo sem olhar direito para cima que esqueci que as nuvens se movem! A cada segundo que se passa o céu está diferente, mudando de cor e de forma num espetáculo pronto para você no momento que você quiser, pelo tempo que puder, independente de onde estiver.

Enquanto escrevo agora, o céu está todo escuro, sem nuvens e sem estrelas a não ser por uma única que se destaca contra a escuridão, que descobri se chamar Arcturus. Observo suas pulsações em vários tons diferentes até que, de repente, ela não está mais sozinha, mas sim cercada de várias outras mais tímidas que só percebemos quando mantemos a nossa atenção por tempo o suficiente para que elas se sintam confortáveis o suficiente para se mostrar. Amo o ar da noite com seu frescor e silêncio. É isso que sempre consegue levar embora todo excesso de pensamento e me deixar somente com o que mais importa, o agora.

Esse, então, é o primeiro texto da nova série chamada “monólogos: textos pra ler quando não se tem nada pra fazer”, onde vou me permitir discorrer sobre qualquer coisa que tenha chamado minha atenção, abrindo um espaço contemplativo e abstrato, sem começo e nem fim, um infinito meio sem compromisso com respostas. Como virginiana de casa 3, gosto da simplicidade e o que mais me chama atenção são as minúsculas coisas que estão sempre ao meu redor. Enquanto lê, imagine que está na grama debaixo daquela árvore enorme, sabe aquela? Essa mesma. Quando quiser dar uma descansada na mente frenética e estressada pode se juntar a mim porque é aqui que eu vou estar fazendo exatamente a mesma coisa. Esse é o meu jeitinho de colocar algumas reflexões no mundo e deixar que cada pessoa tire desse momento aquilo que precisar, espero que gostem!

E aí, como está o céu onde você está?

Esse texto veio direto do meu site e se você gostou é mais que bem-vinde para dar uma olhadinha nos outros, quem sabe também goste. Aqui me entrego aos meus sentimentos e deixo que fluam livremente, por lá minha mente comanda, se apropriando do caos para trazer um pouco mais de reflexão e questionamento para quem se sintonizar comigo de alguma forma. Trabalho com astrologia e tarô e acredito que o único jeito do mundo melhorar é se todas as pessoas começarem a se olhar com mais carinho e curiosidade, escrevo lá para compartilhar a minha experiência com tudo isso.

Não se esqueça de beber água e se cuide!

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