tá bom, meu bem, eu escrevo pra você.

mari
2 min readAug 20, 2024

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Confesso que ainda não sei muito bem porque é que você gosta tanto de me ler, mas também eu passaria meus dias inteiros se pudesse te ouvindo cantar. E como tem feito falta te ouvir cantar… Então cá estou eu improvisando enquanto sinto meu corpo aguardando cheio de expectativa pelo seu.

O tempo passou rápido e o tempo passou devagar, bem como a gente disse que seria. Você viveu sua correria de lá e eu vivi meus processões de cá, pintando um quadradinho de verde após o outro até que agora faltam só mais dois pro papel ser abandonado em cima da escrivaninha.

Foi bom tudo isso que passei comigo. Foi importante pra mim. Não fiz tudo o que eu achei que faria e acho que o estar longe teve mais relevância do que o estar aqui. Poderia ter sido em qualquer lugar em qualquer outro quarto, preferencialmente um com menos calor e menos mosquitos, mas quem adiou minha viagem pro verão porque não se sentia pronta fui eu, pois então eu que lute.

Não mudei. Não me descobri alguém que eu nunca imaginei que seria. Não me sinto diferente. Me sinto mais eu. Mais firme e mais sólida do que nunca e também mais flexível depois de tanto me alongar. Era sobre isso que eu tinha começado a escrever no meu caderno de cama quando você ligou e se indignou mais uma vez com o tal do caderno que agora guarda todas as minhas palavras só pra si.

O tal do caderno dos sonhos que não me lembro mais de ter e dos que talvez fiquem gravados em mim pra sempre, das manhãs preguiçosas sem coragem de sair da cama e das noites solitárias em que eu só queria ter alguém pra conversar. É o caderno da letra horrorosa de quem escreve meio acordada e meio dormindo nas posições mais esquisitas e das linhas tortas pela falta de luz.

Foram dias em que vivi comigo e cuidei de mim, às vezes muito bem e às vezes nem tanto, mas na minha própria irregularidade me faço constância e me ofereço a presença que consigo me dar. Não me cobrei pelo que não importa e porra… Como foi bom me sentir um pouco mais leve da pressão que talvez nem more lá em casa, mas que de vários jeitos entrou e ficou.

Estive esses dias num estado constante de inspiração que vou com certeza colocar na mala aberta no meio do quarto, na espera pra ser recheada por todas as roupas que quero que você tire, arranque e deslize de mim. Falta pouco, a gente repete em mais uma chamada de vídeo, e não consigo não reparar no quanto a sua mera existência me acende.

Ainda quero escrever sobre a coruja que me espiou por cima da blusa que já não existe mais e do fondue de chocolate, mas os bocejos já começaram a tomar conta e fosse agora o caderno ao invés do computador talvez eu já estivesse dormindo com a caneta na mão.

Boa noite, amor, e até logo!

20 de agosto de 2024, 02:40 — Asti

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