No lugar de sempre, com gente de sempre, mas hoje era diferente. Quem estava ali estava ali por um motivo e a gente ria, brincava, se divertia. Mas nada é tão simples quanto parecia. Mais alguém também estava e nenhum de nós sabia. Um espirro entregou, veio de perto do nada. Coração parou. Respiração parou. Tudo parou. Silêncio. Quem foi? Eu não. Nem eu. Silêncio. Todos nós em silêncio. Olhos arregalados. Tempo estático. Peso morto respirando em falso do meu lado. Pelinhos em pé no braço. Gravidade que quase me estabaca. Alguém aponta para um casaco e quem estava perto joga. Ele voa de volta pra direita de mim. Tempo estático. Casaco estático parado no ar. Corpo vazio do meu lado coberto. Quanto tempo posso passar sem respirar? Não ouso mexer mais que o olho fixado na periferia do absurdo. É um sonho? Não. Dentro do sonho não. Imóvel. Capuz da invisibilidade deixa visível o invisível. Alguém me tira daqui. Não ouso me mover. Não sei se não quero, se não posso ou não consigo. Silêncio. Acho que nunca fiquei tanto tempo em silêncio. E agora? Casaco parado no ar do jeito que parou. Uma cabeça mais alta que a minha, com ombros, sem corpo. Não se move. Ninguém se move. Nova brincadeira. Todo mundo vai brincar. Quem aqui tem mais medo?