Queria dizer que na verdade tanto faz, que não me importa o que você pensa, que eu me conheço bem o suficiente para não me afetar com as suas inconsistências. O problema é que por me conhecer tão bem entendo que eu sou a maior inconsistência que existe, então porque as suas me abalam?
Queria conseguir não pensar. Sei que consigo não sentir quando decido, mas por pensar demais me impeço de me impedir. Conheço minhas rotas de fuga mais que ninguém e me vejo correndo desesperadamente ao mesmo tempo que me dou uma rasteira e me arrasto de volta.
Queria ser menos eu às vezes e isso me machuca. Me amo demais para aceitar pensar em mim dessa forma e por isso preciso te odiar um pouco por me fazer me ver assim, pelo menos um pouco. A verdade é que não te odeio nem um pouco e muito menos odeio a mim, odeio o fato de sentir tanto amor que não consigo odiar nenhum de nós.
Queria ser mais fácil ao mesmo tempo que me acho fácil demais. Compreensiva demais. Flexível demais. Tão maleável que me pego nas mãos e escorro por entre os dedos. Tão sem forma que me identifico com tudo e não me identifico com nada. Molenga. Gosmenta. Nojenta.
Queria me enxergar de fora e quando consigo não sei o que pensar daquilo que vejo. Me gosto? Desgosto? O que posso tirar disso tudo que sou? O que você vê? Por favor me diga o que você vê. Eu preciso mais do que tudo saber.
Queria me desprender de tudo que me prende a mim, a ti, aqui. Ir pra bem longe e começar do zero como outra eu que na verdade vai se provar ser mais eu do que nunca. Aquela eu que aparece quando caem todas as crostas cristalizadas de outras eus que pararam por ali.
Queria sustentar o pico de adrenalina e confiança que às vezes bate. Aquele que me ergue o queixo, endireita a coluna e afirma a voz. Quando me vejo pelo que sou e amo tudo o que vejo. Quando sei o que quero e caminho com propósito e direção.
O problema é que quando te vejo andando ao meu lado só quero continuar andando ao seu lado e deixo de lado para onde vou.
